sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Surge no Facebook o esquadrão antifogos de artifício

Na maior Rede Social do planeta, o Facebook surge uma expressiva campanha brasileira contra os fogos de artifício, as bombas explosivas que aterrorizam os animais domésticos, silvestres e de produção – e não só os animais, mas crianças, doentes e idosos de nossa sociedade – e ameaçam toda a Natureza. Nesta época de Réveillon, quando muitos se preparam para soltar rojões, motivos de cães perdidos e feridos e de aves mortas, a notícia de que um esquadrão determinado de internautas utiliza a Rede Social para conscientizar o País do problema é animadora. O grupo foi batizado no Facebook como "Abaixo Fogos de Artifícios" e já tem milhares de adesões. Os coordenadores fazem uma Petição Pública para mudar a legislação. Leia entrevista com um dos coordenadores do grupo, o José Luis Soares, e os depoimentos de Ana Elisa de Rizzo e da estudante de Medicina Veterinária e dona de dois cachorros, Carla Pires.        

AnimaisOk – Como surgiu esse movimento no Facebook?
José Luis Soares – Iniciei o grupo “Abaixo Fogos de Artifícios” no final de 2010 com o objetivo de conscientizar as pessoas para os efeitos colaterais dessa ação ultrapassada, egoísta e assassina de comemorar com bombas. Possuo seis cães, dois deles nem se alteram quando ouvem os estampidos, dois ficam excitados e começam a correr, um entra em convulsão e o mais velho fica apavorado, treme e procura se esconder.

AnimaisOk – Como estão as adesões ao grupo?
José Luis Soares – Para minha surpresa as adesões são extraordinárias. Em dois dias, tínhamos mil pessoas e chegamos aos 5 mil em menos de um mês. Hoje estamos com mais de 24 mil membros ativos.

AnimaisOk – Quais efeitos nocivos dos fogos, além dos incêndios e do estresse em pessoas e animais?
José Luis Soares – Pelo Grupo tomei conhecimento de várias doenças que são causadas pela mistura de metais e outras substâncias que são usadas para dar a cor aos fogos. São centenas os efeitos colaterais dessas bombas. No Grupo existem várias pessoas que têm traumas psicológicos com as explosões e sofrem demasiadamente com elas. Os idosos, doentes, crianças são transtornados com o uso dessas bombas!

 AnimaisOk – Como está a Petição Pública?
José Luis Soares – Nossa Petição Pública será encaminhada ao Congresso Nacional com o intuito de criar uma legislação federal que termine com a fabricação, comercialização e uso indiscriminado. Estamos atualmente com 7,5 mil assinaturas. Precisamos de muito mais! O link é http://www.peticaopublica.com.br/?pi=soares11

Depoimento de Ana Elisa de Rizzo, uma das administradoras do grupo "Abaixo Fogos de Artifícios", no Facebook:
“Um dos principais objetivos em relação aos animais é conseguir fazer com que as pessoas respeitem a vida no planeta como um todo, e não apenas considerando o ser humano como superior e detentor da vida e da morte de outros seres. A consciência de que fogos de artifício são armas letais a animais e a seres humanos é fundamental para isso. Sabemos que é uma tradição, mas que tem de ser repensada como muitas outras foram. Fogos matam os animais, matam e ferem seriamente seres humanos e poluem intensamente o meio ambiente. É andar na contramão da nossa evolução moral, espiritual, científica e tecnológica."

Depoimento Carla Pires, dona de dois cães, moradora de São Paulo e estudante de Medicina Veterinária:
“Na minha casa enfrento duas situações distintas: com a Zara, uma pug de 5 anos, que chegou em nossa casa aos 30 dias de vida, e com a Teka, uma vira-lata de 4 anos, que adotamos já adulta. A Zara nos dias em que soltam fogos fica agressiva, ataca a Teka, late excessivamente, rodopia, corre de um lado para o outro, fica totalmente alterada. Já a Teka fica em pânico, vomita, se esconde, e não acha lugar que se sinta segura o suficiente. A primeira vez que presenciamos a cena pensamos até em pedir para a veterinária um remédio para dar em dias como o Réveillon, jogos da Copa do Mundo etc. Mas não posso medicar minhas cachorras com calmante toda vez que soltarem fogos. Vou prejudicar a saúde delas.
O que fazemos é NUNCA deixá-las sozinhas nestes dias de festa... Ficamos dentro de casa com portas e janelas fechadas até o barulho insuportável passar.
Seja na minha casa ou em casa de parentes e amigos – que já sabem que, se nos convidarem para passar Natal ou Réveillon, têm que incluir a Zara e a Teka. Esta nossa atitude é criticada por muita gente, mas só quem já presenciou uma crise de pânico de um cachorro por causa de fogos pode entender o desespero.”

LEIA REPORTAGEM DA "FOLHA DE S.PAULO" SOBRE O VIRA-LATA PARAFINA, que apareceu na escolinha de surfe de Santos assustado com os fogos de artifício do Réveillon do litoral paulista. A reportagem foi publicada na edição de sábado dia 29 de dezembro de 2012.  www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1207904-cao-vira-lata-das-ondas-vira-estrela-do-surfe-no-litoral-paulista.shtml





         

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O labrador Boy deseja a todos um Feliz Natal!!

                       Nossa mensagem de Natal de 2012 tem a foto de um amigo que foi abandonado nas ruas de São Paulo, em meio ao trânsito, e vive provisoriamente em um hotel: é  o labrador Boyde 10 anos, que representa aqui todos os animais velhinhos deixados para trás nas cidades deste País. Ele sofre de displasia coxo-femoral, o que torna difícil sua adoção. 

                  Que o Natal inspire os donos a seguirem com lealdade e amor eternos ao lado de seus animais.

                 Que o Natal inspire os seres humanos a terem paciência nas dificuldades e a respeitarem os seus animais doentes. 

O labrador Boy: abandonado nas ruas de São Paulo e 
resgatado desidratado e cansado.
                        

                             Mensagem especial:
                             "Não temais! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje um salvador, que é Cristo-Senhor, na cidade de Davi. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura."
                             – Lucas 2, 10-12 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O desafio de salvar a onça na Amazônia


O grupo de pesquisadores com a onça-pintada
na floresta amazônica. Foto de Eduardo Von Mühlen/Divulgação

REPORTAGEM EXCLUSIVAA foto acima foi feita na floresta amazônica em novembro deste ano e mostra uma linda fêmea onça-pintada (Panthera onca)que acaba de ganhar um colar de identificação e de transmissão de localização via sistema GPS. Foi enviada da selva diretamente para este blog. É um momento de uma pesquisa de ponta com um dos mais belos mamíferos de nossa fauna, a onça-pintada, espécie que o País tem a obrigação de preservar. A sedação do animal e a colocação do colar foi feita dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. É nesta Reserva que se desenvolve um projeto especial e trabalhoso, que busca estudar esse felino em seu habitat, conhecer seu comportamento e integrar um plano de preservação às comunidades da floresta. Ambicioso? Esses cientistas, entre os quais biólogo, estão tentando o novo caminho. A anestesia das onças e a colocação de colares com transmissão via GPS é um dos passos fundamentais para o projeto: os pesquisadores poderão saber agora, por exemplo, se essa onça-pintada da foto costuma se aproximar de áreas de risco, que são as propriedades rurais e estradas, quais as suas rotas de fugas e locais de caça. A pesquisa faz parte do Projeto Iauaretê, pertencente ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. O coordenador do projeto é Emiliano Esterci Ramalho.
O biólogo Pedro Meloni Nassar, que integra a equipe de pesquisa, concedeu entrevista a este blog por e-mail, escrevendo diretamente da selva amazônica. Leia a seguir a entrevista:
A belíssima onça-pintada sedada na floresta.
/Foto de Pedro Meloni Nassar/Divulgação
AnimaisOK –  O que é o projeto Iauaretê?
Pedro Meloni Nassar – O Projeto Iauaretê atua em várias vertentes. Procuramos saber sobre a ecologia da região e o comportamento da onça-pintada (Panthera onca) na várzea – as áreas alagáveis da Amazônia–, entender quais os conflitos entre a espécie e os moradores locais e como mitigá-los. Procuramos também trabalhar com educação ambiental nas comunidades e buscamos novas atividades e meios de arrecadar fundos para a pesquisa e para a conservação desse animal, por exemplo por meio do ecoturismo.
AnimaisOk – Qual a razão para a fixação do colar de identificação nas onças?
Pedro Meloni NassarO nosso principal objetivo no momento é a colocação do GPS-colar nos animais capturados, que nos fornecerá dados quase que instantâneos de onde o animal está. Desse modo, poderemos entender o padrão de movimentação da onça-pintada na região, tal como as áreas que ela prefere ficar, se fica na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá durante a época de cheia ou não, se anda próximo às comunidades, etc. Sabendo isso, podemos traçar estratégias de pesquisa, de manejo de animais de criação nas comunidades ribeirinhas, promover o ecoturismo e incluir os moradores locais na pesquisa.

AnimaisOk – O projeto busca uma integração com as  comunidades da região?
Pedro Meloni NassarNossa pesquisa procura unir a onça-pintada e a população local em uma ação que objetiva a conservação desse animal e a melhora da qualidade de vida das pessoas. Nós partimos do princípio de que, para se chegar ao objetivo da conservação, são necessárias pesquisas científicas sobre o tema que se quer conhecer e envolver a população na questão é fundamental, seja gerando benefícios econômicos através do meio ambiente, seja por meio da educação ambiental.

AnimaisOk – Neste contexto, o que você destacaria?
Pedro Meloni Nassar Gostaria que os leitores entendessem duas coisas: as pesquisas são feitas para tirar nossas dúvidas, levantar questões, aguçar a curiosidade, tentar mostrar como funcionam as coisas. Quando a gente lê um artigo, ouve um pesquisador falar sobre o trabalho e seus resultados, muito se clareia na nossa mente. Outras dúvidas aparecem e isso faz o mundo girar, porque alguém vai correr atrás e buscar explicar aquilo. Segundo, o mundo sem os animais, no mínimo, ficará mais feio e chato. É um prazer acordar e pensar na possibilidade de observar um boto, uma onça, ver as araras voando pela cidade ou ouvir um sabiá cantando de manhã. Observar, tocar ou sentir a presença de um animal muda a vida de uma pessoa e esperamos que eles sempre existam em riqueza e diversidade.

Frase destaque:

"O mundo sem os animais, no mínimo, ficará mais feio e chato. É um prazer acordar e pensar na possibilidade de observar um boto, uma onça, ver as araras voando pela cidade ou ouvir um sabiá cantando de manhã" (biólogo Pedro Meloni Nassar).


Conheça o blog do entrevistado: http://brasilesuafauna.blogspot.com.br/

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Jumentinho ganha de Papai Noel um pezinho novo

ESPECIAL DE NATAL 



EXCLUSIVO –  O jumento Juventino, apelidado de Juju, ganhou neste Natal de 2012 um presente realmente inesquecível de Papai Noel. Juventino tem agora um pé de resina e fibra de vidro, e ponta de alumínio e borracha, para a sua pata traseira esquerda que perdeu o dedo e o casco. É uma prótese (de cor azul) projetada especificamente para ele e que salvou-lhe a vida. Os jumentos (os asininos), assim como os cavalos, não conseguem andar e viver de maneira saudável com apenas três patas apoiadas no chão. A prótese de resina e alumínio foi desenvolvida por uma equipe determinada de professores e veterinários do hospital da Faculdade de Medicina Veterinária da FMU, no campus do Morumbi, zona sul da Capital. Ao que tudo indica, Juventino é o primeiro jumento brasileiro – e do mundo – a ganhar um pé artificial para poder andar, correr e até dar uns saltinhos. 
Juventino: símbolo de esperança.
Foto de Ricardo Osman
                          No início deste ano, quando vivia em uma fazenda no Tocantins, Juventino sofreu um acidente: uma corda enroscou-se em sua pata traseira esquerda no pasto e causou por "estrangulamento" a necrose do dedo principal (a extremidade da pata, pois os jumentos e os cavalos andam sobre dedos). Juju perdeu as falanges 3.º e 2.º por causa na necrose. Mas a partir daí sua sorte mudou. O dono de Juventino precisava vir a São Paulo e o trouxe. Em abril deste ano, Juju deu entrada, em estado crítico, no hospital da Faculdade de Medicina Veterinária da FMU.  O paciente foi examinado e, diante do quadro complexo e aparentemente sem solução, o proprietário decidiu doar o animal para uma professora. Neste momento, a coordenação da faculdade, professores e profissionais do hospital Veterinário decidiram tentar uma solução inédita em asininos, mas já bem-sucedida em cavalos e até golfinhos (o caso de Winter, nos EUA): desenvolver uma prótese específica para o paciente, tarefa difícil, porque o material e até o peso do objeto deveriam ser testados à exaustão. Foram muitas tentativas e erros nestes nove meses. No percurso, Juju passou por uma cirurgia, com anestesia geral. Uma infecção da ferida levou à amputação da primeira falange. Ao todo, ele perdeu cerca de 12 centímetros da extremidade da pata.   
SUCESSO –  Mas, agora em dezembro, a prótese definitiva foi concluída com sucesso. Juventino terá de usá-la pelo resto da vida, tirando-a regularmente para limpeza. "Juventino já se adaptou à prótese", disse a veterinária Bianca Bueno Gomes, uma das integrantes da equipe. "Sem esse recurso, ele não iria conseguir andar, forçaria as outras três patas, poderia nem mais se levantar." É verdade que o paciente colaborou bastante com o tratamento. Viveu no hospital por todos esses meses, teve curativos trocados diariamente, sem reclamar. Hoje, ele usa também uma liga de descanso (de cor vermelha) na pata traseira direita, para não forçar demasiadamente o membro.
                       Neste Natal, Juventino teve alta do hospital da FMU e está seguindo para uma chácara no interior de São Paulo, seu novo e definitivo lar. Com certeza, vai encantar ainda mais o Natal de todas as crianças da região e daqueles que poderão desfrutar de sua companhia.  Afinal, os jumentinhos estão nos presépios criados por São Francisco e Juju é um símbolo da Esperança, da Paz e da Perseverança. Um pequeno milagre da ciência registrado em uma instituição de ensino da cidade de São Paulo. 
                          Juju, este blog deseja Um Feliz Natal. Que Deus o abençoe.

                          Agradecemos às professoras Ana Claudia Balda e Silke Schwarzbach, à veterinária Bianca Bueno Gomes e parabenizamos toda a equipe.

IMAGENS – O blog AnimaisOk acompanhou, com exclusividade, o tratamento e a colocação da prótese, de cor azul. Além do vídeo (acima), veja as fotos abaixo dos primeiros passos de Juventino com a nova prótese.

                


Fotos de Ricardo Osman
Foto 1: Juventino deitado para colocar a prótese.
Veja a pata traseira sem o dedo e o casco. 


Foto 2: Juventino aguarda pacientemente,
 enquanto é feita a limpeza da pata.


Foto 3: Tem início o curativo, o local recebe
camadas de gaze.


Foto 4: Hora de colocar a prótese, de cor azul,
feita de resina e fibra de vidro, com ponta de alumínio e borracha.
Repare o revestimento interno de espuma.
                                                               

Foto 5: A prótese é colocada com cuidado.
O animal vai usar o pé artificial pelo resto da vida.
Inclusive vai dormir com a prótese. 
                                          

Foto 6: Pronto. Em menos de dez minutos
todo o procedimento foi concluído. 
                                                                         
                                        
Foto 7: A pata traseira direita ganha
uma liga de descanso (cor vermelha)
para evitar que o animal forçe o membro.
                                                    
                                               
Foto 8: Juventino já pode ficar de pé. A prótese
será retirada e recolocada após limpeza sempre que necessário.
Foto 9: Tudo pronto, ele parece mostrar
para a câmera fotográfica o seu presente de Natal.
                                                                    
                   
         

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O Novo Brasil Exige Proteção para Todos

Leia abaixo o artigo escrito pelo autor deste blog, Ricardo Osman, e publicado no site do movimento Crueldade Nunca Mais (http://www.crueldadenuncamais.com.br/)

                     "O Brasil aprovou recentemente a lei Carolina Dieckmann que prevê punição mais rigorosa para crimes contra a privacidade das pessoas na internet. É sinal claro de adaptação da legislação ao novo Brasil. Outro exemplo são as penas mais rigorosas impostas aos réus do Mensalão, em crimes de notória impunidade. Da mesma forma como ocorreu com a internet e com a corrupção, nossa relação com os animais mudou nos últimos 20 anos. O Brasil mudou, a relação das famílias com os animais de estimação mudou, o respeito à Natureza é outro, a defesa dos animais silvestres é outra. Também no Capítulo dos animais precisamos de nova e mais rigorosa legislação. Por isso, as mudanças previstas no texto do Novo Código Penal (em tramitação no Congresso) me parecem adequadas, prontas, para este novo Brasil da internet, de Joaquim Barbosa, do respeito maior ao meio ambiente, que não tolera maus-tratos ou o abandono de animais – e nem cópias de fotos não autorizadas.
                     Este País, sem dúvida, exige punição rigorosa contra tais crimes.
                     Mas aqui e ali ouvimos críticos reclamando do texto do Capítulo reservado aos animais do Novo Código Penal. Eles confrontam as punições dos crimes contra animais e de crimes contra pessoas. Comparam, medem as punições e acham absurda a severidade de penas impostas por crimes que lhes parecem menores. Os críticos não visualizam de forma abrangente a coerência e os benefícios decorrentes para os seres humanos do maior rigor aplicado aos crimes contra animais. A coerência é conceitual: animais são indefesos assim como as nossas crianças. A punição severa e exemplar contra quem abandona e maltrata animais no Brasil irá somar-se à proteção que dedicamos, por exemplo, às crianças e jovens no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Um capitão da Polícia Militar Ambiental de São Paulo já disse, em entrevista, que quem comete crimes contra animais é uma ameaça a toda sociedade, pois a experiência comprova que muitos criminosos que começam atacando “não-humanos” e indefesos, passam depois a atacar os humanos.
                    Os bichos são uma espécie de anjos da guarda que nos permitem levar à reflexão, educar, punir e, eventualmente, prender quem vai praticar ou já pratica crimes contra as pessoas ou o patrimônio.
                    Criminosos não fazem distinção de espécies.
                    Mesmo se considerarmos uma visão que privilegia os seres humanos – ou seja, o ponto de vista homocentrista –, as mudanças do Novo Código Penal são também favoráveis, são positivas, devido à proteção extra que trazem contra os perigos que rondam a sociedade. O rigor servirá como prevenção.
                     O Novo Código Penal, se for aprovado como está, determinará para quem praticar abuso ou maus-tratos a animais domésticos, domesticados ou silvestres, nativos ou exóticos, pena de prisão de um a quatro anos (a punição pode ser aumentada se ocorrer lesão grave permanente ou mutilação do animal). Hoje, a penalidade é branda, o crime é considerado pela lei como sendo de menor potencial ofensivo, com detenção de até um ano e multa. Ninguém, na prática, vai para a cadeia. O novo texto vai penalizar com igual rigor quem transportar animais de forma inadequada e quem abandonar cachorros em parques. Há também pena mais severa para quem destruir um ninho de ave.
                       Qualquer jornalista experiente neste País, que já acompanhou operações da polícia em morros do Rio de Janeiro e em outras cidades, sabe que bandidos não se importam nem com gatos, nem com cães, com pássaros e nem com gente. Quando estão dispostos a assaltar, matar e queimar agem indiferentemente em relação às espécies, ao gênero, estão drogados, tomados pela soberba. Os últimos sujeitos que se aproximaram de bandidos no Rio achando que eles tinham algum discernimento morreram queimados em pneus, como mostra o filme “Tropa de Elite”, cena baseada em fatos reais.  
                        O menino da caverna urbana
                       No Centro de São Paulo, temos uma história distinta, mas que encoraja o rigor na lei. Os críticos falam muito no “abandono de incapaz” (seres humanos) para confrontar os pesos e as medidas da lei. Conheci um menor abandonado, de acordo com os critérios do ECA, L., de 12 anos, que vivia sob uma passarela no Terminal Bandeira. Fugira de casa e foi morar ali com amigos e um gatinho, o Mingau. Em uma manhã o local pegou fogo. L. conseguiu escapar, mas não encontrou na fuga o seu gatinho. Horas depois dos Bombeiros apagarem o fogo, L. entrou na “caverna urbana” e resgatou o gato Mingau (tudo registrado em fotos). O jovem amava aquele gato. A pergunta é: se, por hipótese, a investigação mostrasse que o incêndio foi criminoso – como há suspeita sobre tantos incêndios em favelas em São Paulo em 2012 – não deveria o agressor ser julgado e, se condenado, punido pela ameaça ao menino L. e ao gatinho Mingau? As coisas não se somam? O que o caro leitor acha?
                        Já na cidade gaúcha de Caxias do Sul, o catador de papel Carlos Miguel dos Santos, de 45 anos, foi morto em setembro deste ano, depois que jovens atearam fogo onde ele dormia, em um depósito de lixo. A polícia investigou o crime e prendeu os jovens. O catador morto deixou para trás seus queridos cachorros, Scooby e Preta, que ficaram desolados, segundo reportagem do UOL. Os cachorros passaram a perambular pelo depósito de lixo, ao lado da carroça de Santos, fiéis e enlutados. Podem até vir a ficar doentes. Portanto, não deveriam os criminosos, depois de julgados e condenados, pagar pela morte do catador de papel e pelo dano aos animais?
                         Os críticos das mudanças no Novo Código Penal são, às vezes, os mesmos que cometem outro erro. Algumas pessoas se dizem alarmadas com o fato de cães e gatos receberem ração de primeira em um País onde crianças passam fome. Isso é hipocrisia. As crianças passam fome no Brasil por culpa exclusiva dos seres humanos, do homo sapiens. É a corrupção dos políticos, dos governantes. A única espécie responsável pela fome das crianças é a nossa. A bandidagem que toma conta deste País, presente em Brasília e nas pequenas cidades, é que rouba as merendas e o dinheiro dos nossos impostos que deveria por as refeições nas casas dos trabalhadores e nas escolas. Neste ano, o País vai arrecadar R$ 1,5 trilhão em impostos (dados do Impostômetro, da ACSP). Pergunto: para onde vai todo este dinheiro? A ineficiência do Estado e a irresponsabilidade de pais colaboram com essa realidade.
                       Os bichos não têm nada a ver com isso.
                        Os animais nos aquecem, como mostrou São Francisco no presépio, nos fazem companhia, nos curam da solidão, e até nos fornecem alimentos, como o leite. Muitas vezes, morrem em nosso lugar, como ocorreu em Goiânia, quando uma mulher, em terrível surto de agressão, matou uma cadela Yorkshire na frente da filha (a cena foi gravada em vídeo). A cachorrinha foi o anjo da guarda daquela criança, serviu-lhe de escudo contra uma humana (mãe) frustrada e fora de controle.
                         A cena no Youtube nos mostra com clareza que havia duas indefesas naquela situação. Dois crimes ocorreram. Vamos ver aquela criança ao lado do animal, e proteger a ambos com leis mais rigorosas.
                        É isto o que o novo Brasil espera de nós!

                        Abraços em todos,
                        Ricardo Osman
                        Jornalista e estudante de Medicina Veterinária, autor do blog AnimaisOk
                        Ricardo Osman foi repórter de O Globo e de O Estado de S. Paulo. Formado pela Escola de Comunicação Social da UFRJ."