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Professora e pesquisadora Andrea Roberto Bueno/Foto de Ricardo Osman |
Não se trata mais de papo de naturalistas empolgados ou de esotéricos de plantão. Os filhotes das vacas que nascem nos pastos vão se levantar rapidamente ou lentamente para a primeira mamada de acordo com a precipitação de chuvas no momento, e a temperatura do ambiente. Quanto mais chuva e frio mais o filhote demora para se ergue no pasto. A diferença de tempo pode chegar até 6 horas! Animais frágeis, nos seus primeiros minutos em um mundo desconhecido, regulam suas atitudes e esforços em função da umidade. A natureza é sábia e desta vez sua sabedoria foi flagrada.
A afirmação é uma das
principais conclusões da tese de doutorado “Relações
Materno-Filiais e Estresse na Desmama de Bovinos de Corte” da professora e
pesquisadora Andrea Roberto Bueno, realizada para a Faculdade de Ciências
Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, da Universidade Estadual Paulista. O
estudo traz contribuições valiosas para o bem-estar de animais de produção.
“A precipitação pluviométrica
aumenta a latência para a primeira tentativa para o bezerro levantar e para
iniciar a primeira mamada, portanto maiores cuidados devem ser tomados com os
animais nascidos em dias chuvosos”, diz Andrea Roberto Bueno em suas Conclusões.
Em entrevista a este blog, a pesquisadora declara que os
produtores devem observar o parto no pasto e nos dias mais chuvosos ajudar o
bezerro a se levantar se ele apresentar dificuldades. Mamar é fundamental para
assegurar a saúde e garantir proteção imunológica por meio do colostro. “O bezerro não tem
habilidades para controlar a temperatura do corpo, e nos dias chuvosos ele
perde mais calor”, explica a professora. “Ele não se levanta para não se
expor à umidade e ao frio.”
BEM-ESTAR ANIMAL – A professora conseguiu
atestar este comportamento (devidamente cronometrado) ao analisar em minúcias a
atenção que as vacas dispensam aos bezerros após o nascimento. Ela confrontou
dados de sua pesquisa recolhidos em meses distintos do ano e percebeu que havia
diferença de tempo nessa atenção materna. “Esse efeito pode ser reflexo das
diferenças climáticas entre os diferentes meses”, afirma a autora na tese de
doutorado. “Segundo Cromberg (1997), a movimentação do bezerro nas primeiras
horas após o parto influenciou o comportamento da vaca em relação ao bezerro.
Assim, como nos meses de março e abril a quantidade de chuva é maior do que nos
meses de maio e junho, e a PTL (latência para a primeira tentativa para
levantar) foi influenciada pela precipitação, é possível que com a maior
quantidade de chuva nos meses de março e abril, o bezerro retarde seus
primeiros movimentos, o que atrairia menos a atenção da vaca”, diz a professora. Para realizar o estudo, Andrea trabalhou muitas vezes até 12 horas no campo, munida com uma boa capa de chuva.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS – A tese, orientada pelo doutor
Maurício Mello de Alencar, é peça fundamental no bem-estar do animal de
produção. “Um bom manejo dos bezerros está relacionado ao bem-estar desses
animais”, diz Andrea. Além disso, o estudo concluído em 2002, chega em momento oportuno:
está na pauta das discussões o aquecimento global e as mudanças drásticas no
clima do planeta, que podem interferir no cotidiano de todos nós, nos níveis
dos mares e, sabemos agora, na vida dos bezerros também.
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Foto ilustração/Ricardo Osman |
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