segunda-feira, 23 de junho de 2014

Mais uma vitória a favor dos golfinhos da Amazônia


Recebemos neste blog notícia enviada pela assessoria da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, que realiza um trabalho sério e fundamental na defesa do boto-vermelho da Amazônia. É uma ótima notícia, que nos enche de esperança na conservação deste lindo animal.
Foto boto-vermelho/Divulgação Anselmo d’Affonseca

A partir de janeiro 2015, a pesca da piracatinga (Calophysus macropterus) estará proibida na Amazônia. A moratória, que vale por cinco anos, tem como objetivo proteger os jacarés e botos-vermelhos (golfinhos amazônicos) que atualmente são utilizados como isca nessa modalidade de pesca. “Essa é uma grande vitória para a natureza”, afirma Sannie Brum, pesquisadora do Instituto Piagaçu (IPI) que desenvolveu um projeto para conservação do boto-vermelho (Inia geffrensis) e já alertava sobre essa problemática desde 2009, quando teve uma pesquisa apoiada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A instrução normativa foi assinada pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, além do ministro da Pesca e Aquicultura, Eduardo Lopes.

Segundo Sannie, as pesquisas científicas são muito importantes para o processo de aprovação de instruções normativas, pois seus resultados balizam as discussões. “Os dados alarmantes das pesquisas que foram divulgados nos meios de comunicação contribuíram para fornecer subsídios para o Ministério Público preparar a primeira recomendação que resultou nessa moratória. Acreditamos que esses resultados motivaram e contribuíram significativamente para a instrução normativa”, explica.

As instituições que financiam os estudos também têm papel fundamental em resultados como esse. “Elas são primordiais, pois os dados não seriam conseguidos sem o apoio dos financiadores, e sem essas informações o poder público teria maiores dificuldades para tomar providências, levando mais tempo para identificar os problemas. É um ciclo de geração de conhecimento que gera conservação”, destaca Sannie Brum. Uma dessas instituições é a própria Fundação Grupo Boticário, que desde 1990 já apoiou cinco iniciativas para a conservação do boto-vermelho na Amazônia. Outra ONG importante é a Associação Amigos do Peixe-Boi (AMPA), criada em 2001 para proteger as espécies de mamíferos aquáticos da Amazônia, como o peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis), a lontra neotropical (Lontra longicaudis) e a ariranha (Pteronura brasiliensis), além do próprio boto-vermelho (Inia geoffrensis).

Fiscalização é essencial
Apesar da importância da criação da moratória, é importante que ela não fique apenas no papel. De acordo com Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, essa questão é fundamental. “A assinatura da instrução normativa é um grande passo, mas é preciso colocá-la em prática para promover no longo prazo a conservação efetiva das espécies que estão sendo utilizadas para pescar a piracatinga”, comenta.

Ao ressaltar a importância do monitoramento da pesca, Malu lembra que a grande extensão do bioma amazônico é um fator que precisa ser considerado. “É preciso forte fiscalização nos rios onde há ocorrência de pesca para que as embarcações flagradas com piracatinga possam ser autuadas, garantindo a aplicação dessa nova política pública. Além disso, esse monitoramento precisa ser planejado de forma eficaz, considerando a grande extensão do bioma, os locais de maior ocorrência de pesca, além das dificuldades de acesso”, afirma.

Golfinhos em perigo
O estudo de Sannie Brum mapeou áreas de ocorrência da pesca da piracatinga na região do baixo Rio Purus, no Amazonas. A iniciativa demonstrou que a morte dos botos-vermelhos decorrente dessa pesca está bem acima de qualquer limite seguro, e que a atividade pesqueira é a grande ameaça à conservação da espécie na região. O projeto, que teve o apoio da Fundação Grupo Boticário, estima que o volume anual de pesca provoque a morte de 67 a 144 botos-vermelhos anualmente. Essa quantidade está bem acima do limite teórico de mortalidade, estimado em apenas 16 animais. A alta mortalidade do golfinho amazônico é explicada pelo seu uso como isca para a captura da piracatinga, pescado de baixo valor comercial, mas alta produtividade, característica que o torna uma importante fonte de recurso para os pescadores locais. Embora o peixe seja comum na região, não é usado para alimentação dos habitantes ribeirinhos, pois se alimenta de animais em decomposição.



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