A gente acha que já viu de tudo neste mundo, mas o repertório das agressões aos animais por parte de seres humanos parece interminável.
Um homem, que se apresentou como um lutador, agrediu com raquetadas (raquetes de mata mosquito) uma pequena e inocente maritaca, que vive solta na Praça Sinésio Martins, no Jardim Esplanada, na cidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo. Ele alegou que a ave é uma ameaça!
A luta absolutamente desigual revela qual dos dois seres é o irracional!
A denúncia foi feita nesta segunda-feira, dia 10 de março, pela jornalista Karen Schmidt por meio das redes sociais. Karen e o marido são frequentadores da praça e amigos da maritaca conhecida como Lorinho.
Lorinho teve alguns machucados, mas foi socorrido a tempo.
Sociável e encantador, essa ave silvestre tem até página no Instagram sobre suas interações com os humanos (Maritaca Livre). Ela é mansinha, chega perto das pessoas, sobe nos ombros dos frequentadores da praça, porque em algum estágio da sua vida teve o a atenção de um ser humano. Normalmente, isso ocorre quando a ave é filhote, e recebe proteção e alimento de alguém.
Portanto, Lorinho NÃO vê o Homo Sapiens como um predador. Mas é uma exceção, porque para os pássaros todo primata é uma ameaça na natureza ou na cidade. A cor verde das penas, como ensina Charles Darwin, no seu estudo da evolução e adaptação das espécies, é uma camuflagem justamente contra predadores da natureza.
Karen não especifica, mas Lorinho, pela mancha vermelha nas asas, deve ser a maritaca Maracanã, da espécie Psittacara leucophthalmus.
Essa espécie, vale ressaltar, é de ave da fauna brasileira, que vive sem necessidade de interação com os seres humanos, come sementes e frutas das matas, fazem ninhos nas árvores. Não é bicho doméstico ou domesticável.
A exemplo do que ocorre com os papagaios, algumas maritacas podem perder o medo natural dos seres humanos, vocalizar para interagir, e obter carinho e alimento. Mas esse fato não as torna animais de vida doméstica, se acasalarem, seus filhotes estão aptos a viverem livres na natureza selvagem. Adoram o clima tropical e subtropical.
Diante disso, a legislação brasileira proíbe a caça de maritacas, o comércio e a manutenção em cativeiro.
A lei 9.605 de 1998 estende a proteção a todos os animais silvestres, salvo raras exceções autorizadas pelo Ibama. No entanto, as penalidades aos infratores são consideradas brandas pelas organizações de proteção a fauna: de 6 meses a 1 ano de detenção e multa para a caça, por exemplo.
Os crimes de maus-tratos e abandono de animais domésticos, como os cães e os gatos, têm penas superiores, que podem chegar a 5 anos de detenção (lei Sansão, de 2020).
O tema é hoje motivo de debates, uma vez que segmentos da sociedade reivindicam penas igualmente altas para crimes contra a fauna.
A praça em São José dos Campos é habitat natural de uma maritaca e de outras aves. Mexer com Lorinho, portanto, é mexer com todos nós. A lei é clara! Agressão com raquete é crime!
Hoje, somos todos Lorinho!
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