Esse sistema singular produz 20% da água doce do planeta e abriga 25% da biodiversidade terrestre, bem como cerca de 10% de todas as formas vivas conhecidas. Sua existência está diretamente ligada à da Humanidade.
O escritor e documentarista João Moreira Salles mergulhou nesta floresta e durante seis meses (entre 2019 e 2020) conversou com moradores, pesquisou sua história e testemunhou sua destruição.
Salles traz de lá um dos relatos mais atualizados sobre o crescente desmatamento, a ameaça aos bichos e o recrudescimento da pobreza dos moradores e ribeirinhos da região.
Tão importante quanto isso, João Moreira Salles aponta as razões históricas desta tragédia anunciada: a visão distorcida dos próprios brasileiros, sobretudo de sua elite governante, desde o início do século XX e de maneira mais acentuada a partir da década de 1960, do que é a Amazônia, qual o seu valor real e onde ele está.
A Amazônia é resto, é nada, é arrabalde! Este era o conceito em vigor! E percebam que de 8 a 10 milhões de pessoas já viviam ali quando Pedro Álvarez Cabral aportou na Bahia.
João Moreira Salles lançou no mês passado o livro "Arrabalde: Em busca da Amazônia" (Companhia das Letras/ 423 pág.) que descreve, de maneira bem direta, a visão distorcida que não prevê valorizar a convivência com a floresta e suas insondáveis riquezas, mas a sua ocupação e transformação em campos, pastos, como se fosse inútil e inerte ser natural.
"A paisagem do bioma continua a ser majoritariamente floresta, mas apenas porque a região é continental e a substituição de uma coisa por outra leva tempo. Vinte por cento já foram convertidos em lavoura e pastos... Em outros 20%, o trabalho de roer a mata já começou e neles a floresta está degradada", escreve na Introdução.
O livro faz um alerta: a Amazônia é o centro, e não a periferia, não é o resto! "Se a floresta se for, as leis inclementes da biofísica nos dizem que será preciso esquecer a vida que temos hoje, pois ela será outra."
Será também um 'Adeus' às onças, ao peixe-boi e ao boto-cor-de-rosa, a macacos e aves, a milhões de espécies de animais.
Será também o fim dos rios celestes, pois o bioma lança na atmosfera, via transpiração das árvores, uma quantidade maior de água do que a do rio Amazonas.
Vale a pena ler Arrabalde: Em busca da Amazônia.
"Não existe floresta porque chove; chove porque existe floresta", biólogo Antonio Nobre, em depoimento a João Moreira Salles, página 106.
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