domingo, 26 de abril de 2020

Covid19: aliança científica para desenvolver a vacina, a arma contra a doença.


  Na sexta-feira, dia 24, enquanto o ministro da Justiça, Sergio Moro, anunciava a sua demissão diante de nova crise criada por Jair Bolsonaro, importante reunião on-line promovida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a partir de Genebra, reunia líderes da Europa, cientistas e empresários, como Bill Gates, em torno de uma causa comum: desenvolver rapidamente um medicamento eficaz e a vacina contra o coronavírus SARS-CoV-2, que causa a doença Covid19.
   A aliança global científica lançada pela OMS é uma base real para a esperança de todas as nações que sofrem com a Pandemia, sobretudo para países como o Brasil, com crise econômica em paralelo. O projeto tem como objetivo levar “a todos” e “em qualquer lugar” a droga ou a vacina contra a doença, uma vez desenvolvidas, considerando-as como “bens da humanidade”.  
  Com apoio da União Europeia, participaram do encontro da aliança o presidente da França, Emmanuel Macron, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, líderes políticos e com destaque Bill Gates, devido ao envolvimento de sua Fundação no apoio ao desenvolvimento de uma vacina.
   Nenhum representante do Ministério da Saúde ou do governo brasileiro se dispôs a participar do encontro. Neste momento de insensatez das autoridades federais no Brasil diante da Pandemia da Covid19, vem de fora do País esforços capazes de reacender a esperança.
  "Estamos enfrentando uma ameaça comum que só podemos derrotar com uma abordagem comum", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, ao abrir a reunião virtual, segundo o The New York Times. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o objetivo deste esforço global é o de arrecadar até 4 de maio 7,5 bilhões de euros (US $ 8,10 bilhões) para acelerar o trabalho de prevenção, diagnóstico e tratamento.
   Segundo ainda The New York Times, Seth Berkley, CEO da aliança de vacinas da GAVI, disse que há no mundo mais de uma centena de projetos para desenvolver a vacina contra a Covid19, sendo que seis destes já estão em fase de ensaios clínicos.
   Um destes projetos já em ensaio clínico é o da universidade de Oxford, na Inglaterra, que ganhou apoio de Bill Gates. Os programas da Bill & Melinda Gates Foudation (a fundação criada por Bill Gates, fundador da Microsoft, e sua esposa Melinda Gate /https://www.gatesfoundation.org/) estão espalhados por todo o mundo e contam hoje com investimento de mais de 250 milhões de dólares contra a Covid19. A Fundação declarou compromisso público em ajudar a acelerar o desenvolvimento de uma vacina.
   Vacinas contra doenças em seres humanos e em animais foram desenvolvidas a partir de estudos iniciados na Inglaterra no século XVIII e desde então são utilizadas como uma das principais, senão a principal, arma contra epidemias.
  A cooperação global tem sido a regra no desenvolvimento e na produção de vacinas em todo o mundo. Temos exemplo no Brasil. A Fundação Rockefeller nos anos de 1940 patrocinou e instalou o laboratório de produção de vacina contra a febre amarela dentro da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro (https://portal.fiocruz.br/).
    Não é de hoje, e nem está restrito ao universo dos seres humanos, que vírus e bactérias estão igualmente espalhados por todo o mundo. Tanto que doenças de cães e gatos, como a Cinomose (cães) e Rinotraqueíte (gatos), são combatidas de maneira preventiva no Brasil com vacinas importadas de laboratórios norte-americanos como a Pfizer. As cepas que infeccionam os cães em Nova York e Alemanha são as mesmas de São Paulo e Rio de Janeiro.
  Em humanos, sabe-se que vários coronavírus causam infecções respiratórias que variam do resfriado comum a doenças mais graves, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS).  
  A OMS informa em comunicado oficial: os coronavírus são uma grande família de vírus que pode causar doenças em animais ou humanos. O coronavíus descoberto recentemente causa a doença COVID19, que, até o momento, está restrita a seres humanos. Conforme ainda a OMS, há sete coronavírus humanos (HCoVs) conhecidos; entre eles o SARS-CoV-2, o vírus que causa a doença COVID-19.   
   Sabemos que o cão pode ser infectado por um tipo específico de Coronavírus para o qual há vacina, e o gato pode ser infectado por outro tipo, que causa da Peritonite Infecciosa Felina (PIF), para a qual não há vacina. Nenhum destes dois vírus infecta veterinários, tutores ou quem quer que seja, são ameaças específicas a estas espécies.
   Vale ressaltar que nenhuma autoridade brasileira esteve neste encontro científico online de sexta-feira, e ao contrário integrantes do governo estão agora atacando a OMS e a China.

DESAFIOS HISTÓRICOS – O que buscamos em 2020 contra a doença Covid19 tem origem no ano de 1789, quando o médico britânico Edward Jenner fez os primeiros estudos a que se tem registro para o desenvolvimento de uma vacina. Foi um estudo empírico, Jenner sequer tinha ideia do que é um sistema imunológico, mas que lhe rende o título de pioneiro das vacinas.
   Diante de epidemia de Varíola (doença provocada por vírus), Edward Jenner percebeu que mulheres que faziam a ordenha de vacas tinham resistência à doença Varíola ou manifestavam apenas uma forma branda da doença. Havia na época uma epidemia de Varíola humana e uma versão mais leve que acometia vacas. O médico inglês resolveu inocular em pessoas saudáveis a secreção purulenta das mamas das vacas, com as quais as mulheres tiveram contato. Logo, percebeu que as pessoas inoculadas desenvolviam uma proteção contra a Varíola humana. Na época, não se conhecia ainda a resposta imunológica dos organismos, com a criação de anticorpos específicos, para enfrentar o ataque de vírus ou bactérias. Mas nascia o princípio básico de toda vacina: apresentar ao organismo uma versão atenuada ou inofensiva de determinado agente de forma que o organismo tenha tempo de desenvolver anticorpos específicos contra o verdadeiro agressor (vírus ou bactéria) se houver a infecção real. É uma espécie de preparação para a guerra com a vantagem de se ter informações antecipadas sobre o inimigo, vírus ou bactéria. Hoje, os avanços científicos permitem que além de antígenos atenuados ou mortos, tenhamos vacinas sintéticas e de partes do DNA do agente agressor.
   O experimento de Edward Jenner estava no caminho certo e as sociedades científicas perceberam isso. O nome “vacina”, segundo afirmam estudiosos, vem desta experiência de prevenção a partir do contato com as “vacas”.
   Menos de um século depois do experimento com a Varíola, e ciente do trabalho de Jenner, o cientista Louis Pasteur realizou estudos mais aprofundados na França sobre proteção contra doenças. É com Pasteur que surge o conceito de micróbio, de microorganismos invisíveis capazes de transmitir doenças, e de “pasteurização” do leite (a eliminação de bactérias do leite a partir de altas e baixas temperaturas). Louis Pasteur conseguiu atenuar vírus em laboratório a partir do calor de forma a usar este material como vacina em seres humanos, induzindo desta forma o desenvolvimento de imunidades. Conseguiu inclusive elaborar a primeira vacina contra a doença raiva (provocada por vírus) e a utilizou na prática para salvar uma criança.
     O Brasil tem pouco destaque no desenvolvimento e produção de vacinas, por isso inexplicável a ausência em um projeto de cooperação global contra a Covid19. O sanitarista Oswaldo Cruz foi um herói na luta contra a febre amarela, doença provocada por vírus, mas transmitida por meio de picada de mosquito. Uma epidemia de febre amarela assolou o Rio de Janeiro, capital da República, no início do século XX e Oswaldo Cruz foi convocado para enfrentá-la com o combate ao mosquito e a vacinação (vacinas importadas).
    Conforme o site da Fundação Oswaldo Cruz, com sede no Rio de Janeiro (https://portal.fiocruz.br/), o País somente conseguiu fabricar a vacina contra a febre amarela a partir da década de 40 e com a ajuda de outro norte-americano, John Davison Rockefeller, fundador da Standard Oil Company. “Parte da sua fortuna foi usada na medicina e pesquisas científicas através da Fundação Rockefeller, criada em 1913. A Fundação chegou ao Brasil em 1916, e em 1923 estabeleceu um convênio com o governo brasileiro para cooperação médico-sanitária e programas de erradicação de endemias, notadamente a febre amarela e depois a malária. Foi com o dinheiro de Rockefeller que, na década de 1940, montou-se o laboratório para fabricar a vacina contra febre amarela, no campus da Fiocruz, edificação que hoje leva seu nome e faz parte das instalações do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz)”.
    Em 1996, o pesquisador Peter Doherty recebeu o Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina pelos estudos que fez com Rolf Zinkernagel sobre o sistema imunológico e sua resposta ao ataque de vírus. Especificamente, o estudo mostra o que é necessário para que células T (linfócitos) identifiquem o vírus dentro das células e consigam realizar a defesa do organismo. As descobertas são fundamentais para o desenvolvimento de vacinas.   
   Segundo informações do site da OMS, no domingo dia 26 de abril foram registrados no total 2.810.325 casos confirmados em 213 países, com 193.825 óbitos.

Autor do artigo e do blog: Ricardo Osman Gomes Aguiar, médico veterinário, mestre em saúde e bem-estar animal e jornalista



  

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