segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Um hospital público bom pra cachorro

O hospital Veterinário Público de São Paulo/
Foto de L.C.Leite/LUZ/Diário do Comércio
                                       
                                          Leia reportagem sobre o primeiro Hospital Veterinário Público do País, localizado na zona leste de São Paulo. A repórter Marisa Folgato visitou a instituição e escreveu para o caderno de Cidades do Diário do Comércio, jornal da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). 
                                          Por Marisa Folgato
                                          "Beethoven fazia quimioterapia, enquanto Pit passava por exame de Raio-X após operar o fêmur com colocação de pinos e suporte externo e Daphne, cardíaca, fez uma cirurgia dentária, que vai curar uma ferida feia que saiu perto do olho.
Tudo de graça no primeiro hospital público veterinário do País, inaugurado no ano passado. Localizado no Tatuapé, zona leste, o centro médico é administrado pela Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais – São Paulo (Anclivepa-SP), com verba da Prefeitura: R$ 600 mil mensais. É preciso ter baixa renda para ser atendido.
“É um convênio nos moldes do firmado no Hospital M’Boi Mirim, que tem gestão do Albert Einstein. O Serviço Veterinário da Anclivepa recebe a verba da Prefeitura, tem uma meta de consultas, exames e cirurgias a cumprir e presta contas do trabalho executado”, explica o diretor administrativo do hospital, o veterinário Renato Tartalia, especialista em odontologia que operou Daphne. De acordo com ele, está prevista uma verba de R$ 7,2 milhões anuais.
                                           Segundo Tartalia, são atendidos, em média, 150 casos diários. “Atendemos 35 novos pacientes ao dia. São distribuídas senhas às 7 horas, diariamente. Os demais casos são retornos.” São realizadas 350 cirurgias ao mês. “Cuidando da saúde dos animais, estamos cuidando da saúde pública.”
                                          A cidade tem cerca de 4 milhões de cachorros e gatos, para uma população humana de 11,4 milhões de pessoas. “Os dados são alarmantes. Muita gente nunca levou o bicho a um veterinário. Nos deparamos com um número espantoso de casos de cinomose, por exemplo, uma doença causada por vírus, que mata e pode ser prevenida com vacina”, explica Tartalia.
                                         Doença que atacou Nina, uma cadela de 1 ano. Norma Alice Gonçalves, 51 anos, procurou socorro no hospital veterinário do Tatuapé. O tratamento foi tentado arduamente. Filha de Norma, Luana Gonçalves de Souza, de 25 anos, acarinhava o tempo todo o bicho, com respiração alterada e espasmos. “Hoje ela tá bem ruinzinha. Pode melhorar ou nem voltar para casa.” Não aguentou. Uma tristeza.
Campanhas – Norma garante que a família ama os animais, mas nem sabia da vacina. “Antes, para mim, como é para muitos, só existia a vacina contra a raiva. Precisavam informar mais sobre isso, fazer campanhas.” Ela já começou a espalhar a informação para vizinhos e conhecidos. Continua levando Princesa, outra vira-latas, ao hospital para tratar de um tumor. “O atendimento é bom, deveriam abrir outros.”

                                   Enfeites na testa e nas orelhas, a cadela Bomba, uma labradora obesa de 14 anos, foi fazer ultrassom na unidade da Rua Professor Carlos Zagotis, número 3, a primeira sede do hospital, onde funcionam a triagem, a emergência e alguns exames. “Ela tem lúpus de pele, mas o exame é para ver um nódulo que apareceu abaixo do baço”, explica sua dona, Gessy Borba, de 43 anos.
                                   “Tentei tratar o lúpus no veterinário particular, mas gastei R$ 2 mil em um mês e não deu mais. Sou bilheteira em eventos, sem trabalho fixo, uma hora nós não aguentamos.” Ela diz que alguns reclamam da demora, mas no Hospital do Tatuapé encontrou tratamento de qualidade e de graça. “Vim num dia e me mandaram pegar senha na manhã seguinte. Aí a Bomba já passou pelo clínico geral, dermatologista. Fez ultrassom, Raio-X, exame de sangue e foi marcada a biópsia.” Ficou oito horas no local de uma vez.
“Graças a Deus encontrei esse hospital”, afirma a overloquista Silvana Fernandes, 44 anos, com a mestiça de poodle Pit nos braços. “O veterinário particular pediu R$ 1,5 mil para fazer a cirurgia, fora os exames e consultas, e não tenho esse dinheiro.” Pit caiu da laje de casa e quebrou o fêmur em quatro partes. Teve de colocar pinos e fixador externo, ela se recupera.
                                “Isso aqui é maravilhoso, muito melhor que atendimento em hospital público de humanos”, diz o marido de Silvana, Walmir, um gráfico desempregado.



Quimioterapia – A poucos metros dali, funciona outra unidade do hospital, com mais especialidades, centro cirúrgico, internação, laboratório, com cerca de 300 metros quadrados. O atendimento tem crescido tanto que foi preciso aumentar as instalações.
No primeiro andar, Beethoven fez quimioterapia, acompanhado da dona, a vendedora Isabel Cristina de Castro, que não saía do seu lado nem um instante. O charmoso golden retriver tinha um tumor na cabeça. “Já diminuiu bastante”, afirma Isabel, que adotou o cachorro. “Encontrei o Beethoven triste, magro, acabado e deixei ele forte, saudável até agora. Mas ele vai ficar bom.”
                               “O melhor de tudo é a ação de educação da população, ao vir ao hospital. As pessoas não receberam essa noção de tratar o animal com dignidade, estamos saindo do zero. Vamos conseguir dos filhos. É um benefício para toda a comunidade”, diz o veterinário Tartalia.
                              “O nível de civilidade de um País pode ser medido pela maneira como as pessoas tratam seus animais. O Brasil está numa fase mínima.”
                              O hospital conta com 55 veterinários e 60 funcionários. “Temos ortopedia, cirurgia, dermatologia, endocrinologia, cardiologia, neurologia, oncologia, odontologia, anestesia, ultra-som, raio-X, laboratório clínico”, explica do diretor.
                              “Não fizemos hospital para quem tem dinheiro para pagar um veterinário particular, mas para aqueles que recebem benefícios sociais da Prefeitura, do Estado ou do governo federal, em programas como o Renda Mínima ou o Bolsa Família. Não é feito também para quem está endividado, mas para quem está em risco econômico.” Cada caso é avaliado por assistente social.
                             Segundo Tartalia, há pessoas desprovidas de tudo, que moram na rua, mas cuidam bem dos animais. “Já vi catador que divide a quentinha com o cachorro, aqui na frente, e há também os que têm um bicho com um tumor visível e nada fazem, ficam olhando o tumor crescer.”
                            No Serviço Veterinário da Anclivepa-SP aparece de tudo. “Do cidadão que realmente está em risco econômico, gosta muito do bicho e não tem como pagar o veterinário, que é o foco do projeto, aos que eram pobres e miseráveis anos atrás, tiveram um melhora, são capazes de comprar um carro em 72 prestações, mas não levam o cachorro para vacinar, deixam o bicho solto na rua e não cuidam.” E há os oportunistas: “Para não gastar, um dono de cachorro mandou a empregada para passar no veterinário daqui com o bicho dele.”
                          De acordo com Tartalia, dois terços dos pacientes são cachorros e um terço, gatos (somente são atendidos cães e gatos). Vira-latas na imensa maioria. “Cerca de 70% dos casos atendidos poderiam ser evitados, porque 33% são vítimas de atropelamento, queda, trauma, chute, riscos que não existiriam com a posse responsável; 20% são doenças de fêmeas, como câncer de mama, complicações do parto e infecção uterina, que não ocorreriam se os animais fossem castrados; e 7% são casos de cinomose, doença evitável com vacinação.”"

Serviço

Hospital Veterinário da Anclivepa-SP
Rua Professor Carlos Zagotis, número 3, Tatuapé. Telefone 2227-0858.
Senhas de segunda a sexta-feira, às 7 horas. São 30 por dia. É bom chegar uma hora antes.

Leia a íntegra da reportagem em http://www.dcomercio.com.br/index.php/cidades/sub-menu-cidades/104265-um-hospital-bom-pra-cachorro

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