quarta-feira, 22 de abril de 2020

A evolução da espécie e o bolsonarismo ruidoso

Amigos e amigas, precisei estudar Medicina Veterinária para conhecer melhor o ser humano!
O ser humano é um primata da espécie Homo sapiens, com um DNA egoísta, e predominantemente orgulhoso e predisposto a guerra e a violência. A espécie conseguiu, sabe-se lá como, se adaptar e conquistar rapidamente o planeta, tendo um salto evolutivo importante há 70 mil anos, na chamada Revolução Cognitiva (definição de Harari, Y.N., Uma breve história da humidade Sapiens, 48 ed. RS: L&PM, 2019). Depois veio a revolução Agrícola, onde entram em nossa história os cães domésticos, os primeiros canídeos a terem a coragem de fazer parceria conosco, são até hoje fieis companheiros, a nos educar, a meu ver.
"O Homo sapiens preferiu conceber a si mesmo como separado dos animais, um orfão destituído de família, carente de primos ou irmãos e, o que é mais importante, sem pai nem mãe. Mas isso simplesmente não é verdade. Gostemos ou não, somos membros de uma família grande e particularmente ruidosa chamada grandes primatas. Nossos parentes vivos mais próximos incluem os chimpanzés, os gorilas e os orangotangos", escreve Harari, página 13.
Estes primatas, a partir da maturidade sexual, somente conseguem viver em grupos pequenos de 30 ou 50 indíviduos. A partir daí, um novo grupo é formado, como uma célula que se separa para formar novo organismo. Embora de origem comuns, e irmãos, os grupos serão rivais nos campos e nas florestas. E põem rivais nisto!
Ao contrário de Harari, porém, vejo na interferência de Deus a possível salvação da espécie. Ainda bem. O Criador nos impõe limites, o livre arbítrio, mas a lei da ação de do retorno. Ou se o leitor (a) preferir: o que semeamos iremos colher (São Paulo, em Espístola aos Gálatas 5.7) Temos a chance, como diz São Paulo, de passar dos impulsos biológicos, do DNA, "da carne", a uma conversão espiritual marcada pela solidariedade, o amor e a Paz. Nascemos matérias e podemos morrer em espírito.
Algumas incógnitas apontadas por Harari, verdadeiros mistérios para os cientistas, lacunas da evolução do Homo sapiens no planeta, são preenchida por estudiosos e religiosos pela presença de Jesus Cristo há 2 mil anos tentando propor ao primata Sapiens uma vida melhor. Em vez de juntar bananas para si e para seu pequeno grupo, aprenderíamos que é dando que se recebe com São Francisco de Assis (século XIII). Aprenderíamos a ter misericórdia com os doentes e os orfãos e chamaríamos tudo isso de uma nova Cultura, a moldar os impulsos do DNA primitivo.
"Embora suponha também processos evolutivos, o ser humano implica uma novidade que não se explica cabalmente pela evolução de outros sistemas abertos. Cada um de nós tem em si uma identidade pessoal, capaz de entrar em diálogo com os outros e com o próprio Deus.", afirma Papa Francisco na Carta Encíclica Laudato Si sobre o Cuidado da Casa Comum (pág. 26).
Mas onde quero chegar? Chego agora aos tempos atuais, ao barulho ruidoso e agressivo que os apoiadores de Jair Bolsonaro provocaram no último domingo, dia 19, em frente a hospitais em São Paulo, onde fizeram buzinaços contra os doentes e a Covid19, e contra o isolamento social. Levo você leitor (a) neste momento à frente do Quartel General do Exército em Brasília onde no domingo um grupo de bolsonaristas esbravejava pela Intervenção Militar e a volta da ditadura, local onde o líder deste bando de Homo sapiens subiu em uma caminhonete, bateu no peito, e gritou que não iria "negociar nada com ninguém". Nada melhor aos ouvidos formados pelo DNA primitivo e as emoções básicas de um Homo sapiens do que a ordem ao combate!
Coletores de grãos e caçadores no passado, isso seguir ao combate, um grupo sapiens sabe fazer!
Sociólogos e filósofos passaram os últimos dias tentando explicar o comportamento dos bolsonaristas na perturbação aos doentes dos hospitais e nos gritos de guerra ao isolamento social. Gastaram muita tinta para pouca coisa. Chamaram de nazistas, irresponsáveis, adoradores de estratégias políticas equivocadas, gente que deseja a morte etc. Nesta quarta-feira, 22/04, no jornal Folha de S. Paulo o colunista Marcelo Coelho, mestre em Sociologia, nos dá uma dica de por onde analisar, mas mesmo assim gastou muita tinta. Em resumo, sua coluna diz que o fanatismo dos bolsonaristas já supera qualquer cálculo ou interesse racional. "Viva Bozo, viva o vírus e viva a morte", é o que gritam os bolsonaristas, diz Marcelo Coelho.
Do ponto de vista dos estudos que fiz do Bem-Estar animal e da ética e comportamento dos primatas, o que o grupo bolsonarista fez no domingo não exige sofisticada análise socio-psicológica-filosófica: são exemplares in natura do Homo sapiens em sua pura expressão! O grupo parou na avenida 23 de maio, bateu no peito, fez grunidos, exibiu os dentes ameaçadores, avisando que estão dispostos a ir para a guerra e aniquilar grupos rivais. Atendem assim "aos apetites da carne", São Paulo, Gálatas 5.16.
O que vimos em Brasília não foi fruto apenas de mobilização via Whatsapp, mas sobretudo mobilização de pessoas ignorantes, alheias a complexa realidade, tudo via DNA ancestral. Querem ir para guerra seja ela qual for, por movido inconfessáveis e ancestrais, e hormônios incontroláveis, para aniquiliar os grupos rivais, o grupo dos doentes, o grupo dos que querem o isolamento social e pensam diferentes deles.
O Beato Papa Paulo VI já advertia em 1971 ao falar das atividades descontroladas dos seres humanos: "os progressos científicos mais extraordinários, as invenções técnicas mais assombrosas, o desenvolvimento econômico mais prodigioso, se não estiverem unidos a um progresso social e moral, voltam-se necessariamente contra o homem", citação em Encíclica Laudato Si do Santo Padre Francisco sobre o Cuidado da Casa Comum (pagina 2).
Portanto, amigos e amigas não se iludam: embora os bolsonaristas estivessem em seus carros e manuseando smarthones sofisticados, seguem à direita na evolução humana, o que há de pior, continuam por dentro, em mente e coração, vestindo peles de animais, caminhando nômades pelas planícies da ignorância, assustados com o fogo. Por isso, transformam o medo da vida e da natureza indomável (esta transmutação de medo em raiva está presente em todos os mamíferos do planeta) em violenta agressão a quaisquer grupo que consideram rivais. Eles não vivem sem rivais. Por que? porque simplificam suas frustrações e sua luta pela sobrevivência no planeta. Não sabem viver em paz e em prosperidade!
Não é à toa que o líder é Jair Messias Bolsonaro, um Homo sapiens de pouca leitura, evangelização duvidosa, mas com formação apenas em guerra, realizada dentro dos quartéis do Exército brasileiro.
Nenhum outro animal do planeta, dos elefantes aos macacos, dos cães aos pássaros e aos peixes, desenvolveu nos últimos séculos armas nucleares e fábricas de revólveres. Talvez por isso, sabe-se lá, a doença Covid19 deixou todas as demais espécies de fora da ameaça de morte e de extinção.
O que posso dizer além de tudo isso é que meus pacientes, cães e gatos, estão vivendo tranquilamente este ano de 2020!
Abs
Ricardo Osman Gomes Aguiar
Jornalista, Médico Veterinário e Mestre em Saúde e Bem-Estar Animal, de São Paulo.

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