Na
sexta-feira, dia 24, enquanto o ministro da Justiça, Sergio Moro, anunciava a
sua demissão diante de nova crise criada por Jair Bolsonaro, importante reunião
on-line promovida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a partir de Genebra,
reunia líderes da Europa, cientistas e empresários, como Bill Gates, em torno
de uma causa comum: desenvolver rapidamente um medicamento eficaz e a vacina
contra o coronavírus
SARS-CoV-2, que causa a doença Covid19.
A aliança global científica lançada pela OMS
é uma base real para a esperança de todas as nações que sofrem com a Pandemia,
sobretudo para países como o Brasil, com crise econômica em paralelo. O projeto
tem como objetivo levar “a todos” e “em qualquer lugar” a droga ou a vacina
contra a doença, uma vez desenvolvidas, considerando-as como “bens da
humanidade”.
Com apoio da União Europeia, participaram do
encontro da aliança o presidente da França, Emmanuel Macron, a chanceler da
Alemanha, Angela Merkel, líderes políticos e com destaque Bill Gates, devido ao
envolvimento de sua Fundação no apoio ao desenvolvimento de uma vacina.
Nenhum representante do Ministério da Saúde
ou do governo brasileiro se dispôs a participar do encontro. Neste momento de
insensatez das autoridades federais no Brasil diante da Pandemia da Covid19, vem
de fora do País esforços capazes de reacender a esperança.
"Estamos enfrentando uma ameaça comum
que só podemos derrotar com uma abordagem comum", disse o diretor-geral da
OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, ao abrir a reunião virtual, segundo o The
New York Times. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou
que o objetivo deste esforço global é o de arrecadar até 4 de maio 7,5 bilhões
de euros (US $ 8,10 bilhões) para acelerar o trabalho de prevenção, diagnóstico
e tratamento.
Segundo ainda The New York Times, Seth
Berkley, CEO da aliança de vacinas da GAVI, disse que há no mundo mais de uma
centena de projetos para desenvolver a vacina contra a Covid19, sendo que seis
destes já estão em fase de ensaios clínicos.
Um destes projetos já em ensaio clínico é o da
universidade de Oxford, na Inglaterra, que ganhou apoio de Bill Gates. Os
programas da Bill & Melinda Gates Foudation (a fundação criada por Bill
Gates, fundador da Microsoft, e sua esposa Melinda Gate /https://www.gatesfoundation.org/) estão
espalhados por todo o mundo e contam hoje com investimento de mais de 250 milhões
de dólares contra a Covid19. A Fundação declarou compromisso público em ajudar
a acelerar o desenvolvimento de uma vacina.
Vacinas contra doenças em seres humanos e em
animais foram desenvolvidas a partir de estudos iniciados na Inglaterra no
século XVIII e desde então são utilizadas como uma das principais, senão a
principal, arma contra epidemias.
A cooperação global tem sido a regra no desenvolvimento
e na produção de vacinas em todo o mundo. Temos exemplo no Brasil. A Fundação Rockefeller
nos anos de 1940 patrocinou e instalou o laboratório de produção de vacina contra
a febre amarela dentro da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro (https://portal.fiocruz.br/).
Não é
de hoje, e nem está restrito ao universo dos seres humanos, que vírus e bactérias
estão igualmente espalhados por todo o mundo. Tanto que doenças de cães e
gatos, como a Cinomose (cães) e Rinotraqueíte (gatos), são combatidas de
maneira preventiva no Brasil com vacinas importadas de laboratórios norte-americanos
como a Pfizer. As cepas que infeccionam os cães em Nova York e Alemanha são as
mesmas de São Paulo e Rio de Janeiro.
Em humanos, sabe-se que vários coronavírus
causam infecções respiratórias que variam do resfriado comum a doenças mais
graves, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) e a Síndrome
Respiratória Aguda Grave (SARS).
A OMS informa em comunicado oficial: os
coronavírus são uma grande família de vírus que pode causar doenças em animais
ou humanos. O coronavíus descoberto recentemente causa a doença COVID19, que,
até o momento, está restrita a seres humanos. Conforme ainda a OMS, há sete
coronavírus humanos (HCoVs) conhecidos; entre eles o SARS-CoV-2, o vírus que
causa a doença COVID-19.
Sabemos que o cão pode ser infectado por um
tipo específico de Coronavírus para o qual há vacina, e o gato pode ser
infectado por outro tipo, que causa da Peritonite Infecciosa Felina (PIF), para
a qual não há vacina. Nenhum destes dois vírus infecta veterinários, tutores ou
quem quer que seja, são ameaças específicas a estas espécies.
Vale ressaltar que nenhuma
autoridade brasileira esteve neste encontro científico online de sexta-feira, e
ao contrário integrantes do governo estão agora atacando a OMS e a China.
DESAFIOS
HISTÓRICOS – O que buscamos em 2020 contra a doença Covid19 tem
origem no ano de 1789, quando o médico britânico Edward Jenner fez os
primeiros estudos a que se tem registro para o desenvolvimento de uma vacina.
Foi um estudo empírico, Jenner sequer tinha ideia do que é um sistema
imunológico, mas que lhe rende o título de pioneiro das vacinas.
Diante
de epidemia de Varíola (doença provocada por vírus), Edward Jenner percebeu que
mulheres que faziam a ordenha de vacas tinham resistência à doença Varíola ou
manifestavam apenas uma forma branda da doença. Havia na época uma epidemia de
Varíola humana e uma versão mais leve que acometia vacas. O médico inglês
resolveu inocular em pessoas saudáveis a secreção purulenta das mamas das vacas,
com as quais as mulheres tiveram contato. Logo, percebeu que as pessoas inoculadas
desenvolviam uma proteção contra a Varíola humana. Na época, não se conhecia
ainda a resposta imunológica dos organismos, com a criação de anticorpos
específicos, para enfrentar o ataque de vírus ou bactérias. Mas nascia o princípio
básico de toda vacina: apresentar ao organismo uma versão atenuada ou
inofensiva de determinado agente de forma que o organismo tenha tempo de
desenvolver anticorpos específicos contra o verdadeiro agressor (vírus ou
bactéria) se houver a infecção real. É uma espécie de preparação para a guerra com
a vantagem de se ter informações antecipadas sobre o inimigo, vírus ou
bactéria. Hoje, os avanços científicos permitem que além de antígenos atenuados
ou mortos, tenhamos vacinas sintéticas e de partes do DNA do agente agressor.
O experimento
de Edward Jenner estava no caminho certo e as sociedades científicas perceberam
isso. O nome “vacina”, segundo afirmam estudiosos, vem desta experiência de
prevenção a partir do contato com as “vacas”.
Menos de um século depois do experimento com
a Varíola, e ciente do trabalho de Jenner, o cientista Louis Pasteur realizou
estudos mais aprofundados na França sobre proteção contra doenças. É com Pasteur
que surge o conceito de micróbio, de microorganismos invisíveis capazes de
transmitir doenças, e de “pasteurização” do leite (a eliminação de bactérias do
leite a partir de altas e baixas temperaturas). Louis Pasteur conseguiu atenuar
vírus em laboratório a partir do calor de forma a usar este material como
vacina em seres humanos, induzindo desta forma o desenvolvimento de imunidades.
Conseguiu inclusive elaborar a primeira vacina contra a doença raiva (provocada
por vírus) e a utilizou na prática para salvar uma criança.
O Brasil tem pouco destaque no desenvolvimento
e produção de vacinas, por isso inexplicável a ausência em um projeto de
cooperação global contra a Covid19. O sanitarista Oswaldo Cruz foi um herói na
luta contra a febre amarela, doença provocada por vírus, mas transmitida por meio
de picada de mosquito. Uma epidemia de febre amarela assolou o Rio de Janeiro,
capital da República, no início do século XX e Oswaldo Cruz foi convocado para enfrentá-la
com o combate ao mosquito e a vacinação (vacinas importadas).
Conforme o site da Fundação Oswaldo Cruz,
com sede no Rio de Janeiro (https://portal.fiocruz.br/), o País somente conseguiu
fabricar a vacina contra a febre amarela a partir da década de 40 e com a ajuda
de outro norte-americano, John Davison Rockefeller, fundador da Standard Oil
Company. “Parte da sua fortuna foi usada na medicina e pesquisas científicas através
da Fundação Rockefeller, criada em 1913. A Fundação chegou ao Brasil em
1916, e em 1923 estabeleceu um convênio com o governo brasileiro para
cooperação médico-sanitária e programas de erradicação de endemias, notadamente
a febre amarela e depois a malária. Foi com o dinheiro de Rockefeller que,
na década de 1940, montou-se o laboratório para fabricar a vacina contra febre
amarela, no campus da Fiocruz,
edificação que hoje leva seu nome e faz parte das instalações do Instituto de
Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz)”.
Em 1996, o pesquisador Peter Doherty recebeu o Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina pelos
estudos que fez com Rolf Zinkernagel sobre o
sistema imunológico e sua resposta ao ataque de vírus. Especificamente, o
estudo mostra o que é necessário para que células T (linfócitos) identifiquem o
vírus dentro das células e consigam realizar a defesa do organismo. As
descobertas são fundamentais para o desenvolvimento de vacinas.
Segundo informações do site da OMS, no
domingo dia 26 de abril foram registrados no total 2.810.325 casos confirmados
em 213 países, com 193.825 óbitos.
Autor do artigo e do blog: Ricardo Osman
Gomes Aguiar, médico veterinário, mestre em saúde e bem-estar animal e
jornalista
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