O médico veterinário Dr. Erik levava a sério o juramento feito na formatura. Não deixava nenhum cão ou gato sem atendimento, mesmo aqueles abandonados, sem donos, ou de tutores que não tinham como pagar a conta do serviço. Além disso, sempre acreditou ser possível uma medicina veterinária de baixo custo, de qualidade e acessível a todos, principalmente aos clientes e pacientes das periferias das cidades.
Não era teoria, mas prática. Certa tarde, um homem jogou um filhote de gato na recepção do hospital que Dr. Erik inaugurou no bairro do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, e disse que o bicho fora atropelado diante de seu comércio, mas que não queria saber dele.
Sem discussão, Dr. Erik levou o filhote para o centro cirúrgico, colocou um pino em seu fêmur e o manteve na internação do hospital por semanas. Recuperado, o gatinho batizado de Nino foi adotado por uma família. Nunca teve problema com aquela perna.
A este episódio somam-se inúmeros outros de dedicação e desprendimento de um veterinário que se tornou parceiro de ONGs de proteção animal do estado de São Paulo.
Pioneiro das campanhas de castração de cães e gatos nos anos 1990, o veterinário Erik Neves Rodrigues faleceu na sexta-feira, dia 16 de setembro, em São Paulo, de complicações no tratamento para doença grave.
Formado pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Dr. Erik começou a atuar como cirurgião veterinário em Embu das Artes, cidade onde nasceu e cresceu. Cirurgião habilidoso, decidiu dedicar-se à saúde dos pets, apesar do carinho também pelos cavalos.
Era a cavalo que seguia com amigos e amigas em romaria do município de Embu para a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, passando por São José dos Campos. Uma jornada que fazia com o celular nas mãos, atendendo nas paradas clientes ou orientando cirurgiões amigos em alguma emergência.
Em uma manhã da romaria, um dos cavalos que descansava no pasto da pousada entrou em um rio gelado e ficou atolado. Apreensão geral. E mais uma missão para o Dr. Erik, que levava no jipe de apoio todos os medicamentos e frascos de soro para este tipo de atendimento. Retirado da água e tratado o quadro clínico de hipotermia, o cavalo seguiu a jornada.
Não parava de trabalhar. A capacidade de liderar equipe o levou à coordenação de campanhas de castração públicas de cães e gatos de prefeituras como a de Taboão da Serra e de São Paulo. Em um único dia, sua equipe fazia de 300 a 400 cirurgias, além de vacinar os pets contra a doença raiva.
Erik Neves deu expressiva contribuição ao aperfeiçoamento de técnica moderna de castração de fêmeas de ambas as espécies, conhecida como "técnica do gancho". Essa técnica (em que o útero é puxado para fora com a ajuda do gancho) aumentou a segurança e a rapidez nas castrações.
Em 2016, ele inaugurou o hospital "Dr. Erik", no bairro do Campo Limpo, na zona sul da capital paulista, para atendimento aos pets da população de baixa renda. Conquistou seu espaço na periferia paulistana!
Nestes primeiros anos do hospital, estive ao lado do Dr. Erik, colaborando e aprendendo. Chamava atenção as consultas objetivas e seguidas, a capacidade de fazer várias cirurgias ortopédicas por dia, de pacientes atropelados, a maioria cachorros.
Sempre bem-humorado, aparentemente tranquilo diante da pressão e ansiedade da profissão, Erik Neves só se exaltava em jogos do Palmeiras, o time do coração.
Dr. Erik faleceu aos 52 anos, deixou esposa e dois filhos do segundo casamento. O filho Maurício, do primeiro casamento, segue os passos do pai e é médico veterinário no hospital do Campo Limpo.
Que Deus conforte os familiares, amigos e amigas, e seus peludos pacientes!
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