domingo, 4 de março de 2012

"A Origem das Espécies", de Charles Darwin, é um mergulho profundo nas leis da natureza.

ESPECIAL 
ANIVERSÁRIO DE 1 ANO DO BLOG ANIMAISOK    

O livro A Origem das Espécies (The Origin of Species publicado em novembro de 1859) é um relato surpreendente para sua época, muito bem escrito e um mergulho profundo nas leis da  Natureza. Nas páginas da obra, está a teoria mais reveladora dos sistemas biológicos: Darwin afirma que os seres vivos não surgiram abruptamente como os conhecemos, eles são descendentes de ancestrais comuns, como ramos de uma árvore. Os seres vivos evoluem permanentemente a partir de variedades biológicas dos descendentes. Essas modificações podem garantir vantagens a alguns. Os mais adaptados à realidade e aos novos desafios da natureza sobrevivem e conseguem ter proles mais vigorosas, com suas características herdadas. O processo com o tempo dá origem à novas espécies, distintas das espécies dos progenitores. Darwin não foi o primeiro a falar em evolução, mas soube esclarecer como as variedades e a hereditariedade dos seres, submetidos à Seleção Natural, moldam novos organismos, mais complexos e melhor adaptados.
O primeiro exemplar
            No livro, encontramos as palavras próprias de Darwin sobre suas observações. São definições revolucionárias: a "produção" da natureza e a "economia" da natureza. Este inglês afirmou com todas as letras no século 19 que o mundo natural não é estático, ele é dinâmico. "Estou convencido de que as espécies não são imutáveis; mas que as pertencentes ao que chamamos de mesmos gêneros são descendentes diretas de outras e de espécies extintas, do mesmo modo que as variedades reconhecidas de uma espécie descendem dessa espécie. Além disso, estou convencido de que a Seleção Natural foi o mais importante, mas não o único, meio de modificação", trecho da Introdução do livro.
            Darwin descreve os meios de modificação e de coadaptação na natureza. "Nascem mais indivíduos de cada espécie do que podem sobreviver e como, consequentemente, há uma luta recorrente pela existência, qualquer ser, se variar, ainda que levemente, de qualquer maneira lucrativa para si, sob as condições de vida complexas e ora variáveis, terá melhor chance de sobrevivência e, portanto, será selecionado naturalmente. Partindo do forte princípio da hereditariedade, qualquer variedade selecionada tenderá a propagar sua forma nova e modificada."
Mapa com o percurso do navio Beagle
       Vale reforçar que no século 19 a Ciência desconhecia o DNA (o ácido desoxirribonucleico), identificado somente em 1944 como responsável pelo material genético, e chave da hereditariedade. A partir daí compreendemos melhor as variedades, as replicações dos genes, os cromossomos sexuais, as mutações. Darwin sequer contou com as primeiras pesquisas sobre o assunto, de Gregor Mendel. No livro, no entanto, o naturalista chega a apalpar de maneira impressionante a realidade que não via. "Ninguém deve se surpreender com o que ainda permanece inexplicável em relação à origem das espécies e variedades, se tolerar nossa profunda ignorância sobre as relações mútuas dos muitos seres que vivem ao nosso redor."
Cena do navio Beagle
       O naturalista enfrenta pontos sensíveis de sua teoria: como a formação dos olhos, um orgão tão complexo que alguns cientistas citavam como argumento contrário à Seleção Natural. O desenvolvimento dos olhos, defendem alguns, exigiria um projeto. "Supor que o olho, com seus dispositivos inimitáveis para ajustar o foco para diferentes distâncias, para deixar entrar diferentes intensidades de luz e para a correção de desvios esféricos e cromáticos poderia ter se formado pela seleção natural parece, confesso, algo absurdo no mais alto grau." Mas Darwin defende sua teoria e diz que orgãos mais simples, formados por apenas um nervo óptico, podem ter evoluido gradualmente. 
Desenhos
                                   Na obra é evidente a abrangência da pesquisa. Darwin foi um cientista global, que viajou no navio Beagle pelos mares do Sul, esteve no Brasil, e se correspondia com colegas de todo o mundo. Na sua teoria, Darwin abordou não só a Seleção Natural, mas a Seleção Sexual (a luta entre machos, por exemplo, para fecundar uma fêmea) e tratou dos Instintos, um desafio ao seu pensamento. Afinal, se há uma modificação biológica, mas esta não é acompanhada pelo instinto de sobrevivência e reprodução, que leva, por exemplo, um pássaro a fazer o ninho de determinada maneira, a vantagem não irá perdurar ou será até anulada. "Aceitar-se-á que os instintos são tão importantes quanto estruturas físicas para o bem-estar de cada espécie, sob suas atuais condições de vida. Sob condições de vida alteradas, é pelo menos possível que pequenas modificações de instinto possam ser vantajosas para uma espécie; e se puder ser demonstrado que os instintos variam muito pouco, então não vejo por que a seleção natural teria dificuldade em preservar e acumular variações de instinto da forma mais vantajosa. Assim, creio eu, originaram-se todos os mais complexos e incríveis instintos", trecho do capítulo Instinto. Ele fala, portanto, de "variações espontâneas de instintos", produzidas pelas "mesmas causas desconhecidas que produzem pequenos desvios da estrutura corporal." O naturalista revela no texto que, para estudar os instintos, foi um teimoso observador de formigas e de abelhas. Suas anotações diurnas e noturnas em A Origem das Espécies sobre as formigas escravas revelam um cientista minucioso e determinado. "Um dia eu felizmente testemunhei uma migração de F. sanguinea  de um ninho a outro e foi um espetáculo muito interessante ver as rainhas carregando cuidadosamente suas escravas em seus maxilares em vez de serem carregadas por elas."
                         No Capítulo da Conclusão, o naturalista envia aos leitores uma mensagem clara: "Quando considero todos os seres não como criações especiais, mas como descendentes lineares de alguns seres que viveram muito antes no primeiro leito do sistema cambriano depositado, eles parecem-me dignificados. A julgar pelo passado, podemos inferir que nenhuma espécie viva transmitirá sua semelhança inalterada a um futuro distante." Ele encerra o livro A Origem das Espécies com as seguintes palavras: "Há grandeza nessa visão da vida, com seus vários poderes, originalmente soprada pelo Criador em poucas formas ou em uma e, enquanto esse planeta continua com seus ciclos segundo a estabelecida lei da gravidade, a partir de um início tão simples, as formas infinitas mais belas e maravilhosas evoluíram e continuam a evoluir."
O escritório de trabalho
     Graças a Darwin sabemos hoje que o nosso cãozinho é um descendente de um lobo que percebeu vantagens na convivência com os humanos e se adaptou à vida doméstica, e que o nosso gatinho é um primo direto dos leões, apesar das distâncias entre os continentes. Mas Darwin não esgotou o assunto e há desdobramentos sobre sua teoria, que não cabem aqui discutir. Reforço que há ainda mistérios a desvendarQual a origem da Origem? E o papel do Amor, que fortalece os seres vivos, na Seleção Natural? Os animais agem apenas por instinto? Algumas transformações acontecem sobre regras e moldes previstos pelo Arquiteto, como defendem alguns para os olhos? Um animal protege arduamente seu filhote apenas para garantir a propagação dos genes? Eu conheci uma cadela que correu risco de morte por seus filhotes. O que faz com que tantas variedades levem a uma evolução harmoniosa, e não ao surgimento de uma orquestra desafinada? 
                                Ainda estamos aprendendo.  
                               Abraços,
                               Ricardo Osman

                             "Há grandeza nessa visão da vida com seus vários poderes, originalmente soprada pelo Criador em poucas formas ou em uma e, enquanto esse planeta continua com seus ciclos segundo a estabelecida lei da gravidade, a partir de um início tão simples, as formas infinitas mais belas e maravilhosas evoluíram e continuam a evoluir."






                                                
                           

Um comentário:

  1. Texto muito bom! Realmente, o insight de Darwin foi genial. Até hoje é difícil pra muita gente compreender como "infinitas formas belíssimas" podem ter surgido obedecendo regras "simples" da natureza, por um longo período de tempo.

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