quinta-feira, 29 de outubro de 2015

SAÚDE AMBIENTAL DO PAÍS ESTÁ NA UTI, AFIRMAM ESPECIALISTAS EM SIMPÓSIO, REALIZADO EM SP.

Abertura do Simpósio (da direita para esq.): professor Carlos Donini, professor João Carlos Shimada, vereador Gilberto Natalini, do PV, e Juarez Eduardo de Andrade Fortes, da OAB-SP (fotos de Ricardo Osman)

Vereador Gilberto Natalini (PV) em palestra para plateia no auditório da OAB-SP

Para salvar recursos como a água e garantir produção de energia é preciso ação inovadora dos cidadãos e planejamento dos governos

Reportagem Ricardo Osman

   Crise hídrica, de energia, rios encobertos na cidade de São Paulo, resíduos que podem gerar energia, falta de planejamento governamental, direito ambiental e até portos planejados para manguezal no litoral norte paulista, foram os assuntos que fizeram parte das palestras e dos debates do primeiro dia do IV Simpósio em Saúde Ambiental do Programa de Mestrado Profissional em Saúde Ambiental da FMU. O evento foi realizado nesta quinta-feira, dia 29, na sede paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ao lado da catedral da Sé, e lotou o auditório do 2º andar, com a presença de mais de 100 participantes.
   Nenhum tema relevante da atualidade ficou de fora e não faltaram alertas de que a situação da cidade, do País e até do mundo exige dos governos e cidadãos uma nova atitude. Afinal, a crise de abastecimento de água conhecida dos paulistanos, a energia elétrica cada vez mais cara e a poluição do meio ambiente ameaçam a atual e as futuras gerações.
   O coordenador do Programa de Mestrado em Saúde Ambiental da FMU, professor e pesquisador João Carlos Shimada Borges, ressaltou o papel da academia, mas também de cada cidadão, nas mudanças que se fazem necessárias para o uso dos recursos hídricos e da energia no País. “O que vamos fazer com estas informações?”, quis saber ele. “Precisamos trabalhar na quebra de paradigmas, vamos quebrar nossos hábitos”, acrescentou ele.
  Não só de recursos escassos e outros renováveis se limitou a análise. “Vivemos no País uma crise de respeito. A nossa história explica que não temos consciência do que é nosso”, afirmou o professor Carlos Donini, que abriu o IV Simpósio, pela manhã.
 
Professor Ricardo Calil,
segundo da esq. para direita
  O primeiro palestrante foi o vereador de São Paulo e médico Gilberto Natalini (PV) que fez um panorama da situação crítica dos recursos hídricos na cidade e denunciou a poluição dos (poucos) rios. “Não podemos continuar dormindo em berço esplêndido”, disse ele, observando que o planejamento dos recursos hídricos e da geração de energia no País não foi adequado. “A biomassa deveria ser aproveitada na produção de energia e esse recurso geraria energia equivalente à de uma Itaipu por ano”, afirmou o vereador. Para ele, a falta de água deste ano na cidade serve como alerta para todos. “Desperdiçamos muita água e poluímos nossos córregos e rios com esgoto.” O vereador distribuiu carta aberta que irá apresentar à conferência da ONU sobre Mudança do Clima, marcada para dezembro, em País.
  O presidente da mesa no debate inicial foi o professor Ricardo Moreira Calil e da composição fez parte o representante da Comissão de Meio Ambiente da OAB, Juarez Eduardo de Andrade Fortes.
 
Professora Marta Angela
           A professora Marta Angela Marcondes, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, surpreendeu a plateia ao denunciar que “300 rios foram enterrados vivos na cidade de São Paulo.” Marta Angela referia-se a rios que foram cobertos por pistas, asfaltos, aterros e ainda correm, agora poluídos, nos subterrâneos paulistanos. “Os rios enterrados acabam esquecidos e viram esgotos. A coisa é mais séria do que podemos imaginar”, afirmou ela. Integrante da Câmara Técnica de Educação Ambiental do subcomitê de Bacias Hidrográficas Billings-Tamanduateí, ela afirmou que o governo estadual tem a ideia de unir rios e bacias da Região Metropolitana de São Paulo, na forma de círculo em torno da Capital, o que ela definiu como a criação de um “Esgoto Anel” – em referência ao Rodoanel, por estarem estas águas poluídas e por não haver, segundo disse, nenhum projeto efetivo de despoluição. Este anel das águas descrito tem início no rio Tietê, desce pelo rio Pinheiros, entra na Guarapiranga, Billings e chega ao Taiaçubepa, que seria ligado de volta ao Tietê por meio de canalização. “Temos de mudar nosso olhar de planejamento urbano. Os rios devem ser desenterrados e despoluídos. Isso iria suprir a cidade de São Paulo de água.” Ela lançou um desafio aos presentes: “Descubra os rios que estão perto de você. Eles estão debaixo da cidade, mas estão poluídos e tomados por bactérias.”
 
Denúncia: rios enterrados vivos em São Paulo.
Este foi o ponto do Simpósio considerado mais interessante pelas estudantes Mariana Okabe Tardioli, de 24 anos, e Daiane Cristina Dias, de 27 anos, que cursam o 7º período da Faculdade de Medicina Veterinária da FMU. “Não sabia desses rios enterrados”, disse Mariana.
  “Estamos diante de uma oportunidade ímpar de discutir situações importantes para a sociedade”, observou o professor Ricardo Calil, presidente da mesa. “Vemos que não há planejamento para enfrentar os problemas. Vemos somatória de equívocos e sabemos que vamos pagar uma conta enorme por isso.” Para Calil, a juventude tem responsabilidade pelas mudanças necessárias ao País. “A juventude precisa ver que os rios enterrados são problemas dela também.”
   
Palestrante Valquiria de Alencar
Valquiria de Alencar Beserra, mestranda em Tecnologia Ambiental na Universidade Federal Fluminense (UFF), localizada em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, falou em seguida sobre o “Tratamento de resíduos na pecuária para produção de adubo orgânico e geração de energia”, e afirmou que é possível inovar até nas residências, com a compostagem caseira.
  À tarde, no último debate deste primeiro dia, a professora e pesquisadora Renata Marques Ferreira presidiu a mesa e a palestrante foi a professora e Doutora em Direitos Difusos e Coletivos, Gisele Bernardo Gonçalves Hunold, que integra a Comissão Permanente do Meio Ambiente da OAB-SP. 
Dra. Gisele Bernardo (à esq.) e professora Renata Marques Ferreira
   A Doutora Gisele Bernardo discorreu sobre o direito ambiental, relatou casos, mas o debate esquentou quando ela observou a importância do cidadão na defesa e vigilância do meio ambiente, ao lado de instituições como o Ministério Público. “Quantas pessoas têm o conhecimento de que são donos e responsáveis pelos bens ambientais?”, perguntou. Concordou que sociedade deve ficar vigilante ao responder pergunta sobre o projeto de construção de um porto (alguns chamam de ampliação) em São Sebastião, no litoral norte paulista, exatamente sobre uma área de manguezal, de grande importância biológica. O projeto está parado por decisão da Justiça, mas, segundo depoimentos, parece avançar a cada dia no entorno de São Sebastião.

   O segundo dia do IV Simpósio ocorre nesta sexta-feira, dia 30, no campus da Faculdade de Medicina Veterinária da FMU (Ponte Estaiada), localizado na rua Ministro Nelson Hungria, e será aberto pela coordenadora do Curso de Medicina Veterinária da FMU, professora Ana Cláudia Balda.


Auditório lotado

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