quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

"Cavalo de Guerra", de Steven Spielberg: muito sobre guerras e pouco sobre cavalos.

O cartaz do filme
O filme Cavalo de Guerra  estreou nesta sexta-feira, 6 de janeiro, em várias cidades do País. O longa narra a história de amor de um jovem por um animal que vai participar da cavalaria da Primeira Guerra Mundial, na Europa. O cenário é da Inglaterra rural. É a história do cavalo Joey e um jovem chamado Albert (interpretado pelo ator Jeremy Irvine), que o domestica e o treina. O filme é baseado no livro War Horse, de Michael Morpurgo, lançado em 1982.
Leia a nossa crítica que incluímos após assistir ao filme. 

Opinião da colaboradora Claudia Aguiar:

"Cavalo de Guerra fala pouco sobre os cavalos verdadeiros e arranha a alma ao querer nos comover.

    Fui assistir a Cavalo de Guerra porque amo animais, admiro os cavalos por sua sensibilidade, inteligência e beleza, e principalmente porque filmes dirigidos por Steven Spielberg tem, de modo geral, uma marca registrada: são trabalhos de alta qualidade narrativa, visualmente impecáveis, e capazes de manter a atenção do espectador. E pela primeira vez, durante a sessão de um filme de Spielberg, me veio à cabeça: “Dessa vez ele errou a mão…e essa mão está pesada demais…”
         Cheguei a esse ponto durante uma cena que parece interminável, envolvendo uma noite, um cavalo solto, tiros de canhão, e o arame farpado de uma trincheira.
Admito que sou super sensível em relação a imagens que mostrem animais sofrendo. Mas minha vizinha de poltrona, uma desconhecida também visivelmente incomodada, acionava continuamente o relógio do seu celular para ver quanto tempo de filme ainda teríamos de suportar. Ao final da sessão, eu estava pra lá de deprimida. E o burburinho habitual das pessoas deixando a sala, desta vez também me pareceu mais contido.
        Não é o primeiro filme de guerra desse grande diretor. Também não é o primeiro filme sobre cavalos produzido pela indústria cinematográfica.  O melhor, na minha opinião, foi dirigido e protagonizado por Robert Redford, e se chama Encantador de Cavalos (The Horse Whisperer, no original). Além de abordar aspectos do relacionamento entre homens e cavalos, de maneira sensível e mantendo o compromisso da narrativa com a realidade, o filme também tem personagens verdadeiros, com virtudes e defeitos, e um visual belíssimo.

O ator e Spielberg




       Cavalo de Guerra não é assim. Os personagens humanos são profundos como uma poça, estereotipados, enquanto os personagens equinos não são mostrados como animais que exibem comportamentos próprios de sua espécie, antes, durante ou depois de uma guerra. Imaginem então, como são retratadas as relações entre pessoas, e entre animais e  pessoas. Pior: em algumas cenas do filme, o comportamento dos cavalos é exageradamente humanizado, na tentativa explícita de comover a platéia. Em outras, as coisas se resolvem quase que por mágica, com  pessoas se tornando boazinhas de repente,  ou animais se curando, sem sequelas físicas ou comportamentais, depois de um sofrimento atroz. E aí a coisa pesa. Um dos personagens diz que na guerra todos perdemos alguma coisa. Em uma guerra tudo é afetado, maltratado, destruído, total ou parcialmente: o ambiente, os animais, os humanos, tudo. Desta vez, maltratada foi também a platéia que, ao assistir ao vídeo promocional, imaginou que veria nas telas a estória de um cavalo de verdade e de seres humanos verdadeiros. Àqueles que porventura gostarem do filme, peço desculpas, mas acho que na  falta de familiaridade com o tema “cavalo”, um grande diretor de filmes de “guerra” exagerou e se perdeu.





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