quarta-feira, 18 de maio de 2011

A questão do bem-estar animal deve ser assumida com seriedade pelos governos, diz Angela Caruso

Angela Caruso (de chapéu) no bingo do Quintal de São Francisco

ENTREVISTA EXCLUSIVA – A presidente do Quintal de São Francisco, Angela Caruso, afirma que chegou o momento dos governos assumirem a questão do bem-estar animal no País. Ela defende a criação de novos projetos, de atendimentos descentralizados à população e a seus cães e gatos e diz que é hora de se instituir um serviço social para os animais, algo a ser acionado nos casos de emergências, como atropelamentos, e de abandono nas ruas. Angela Caruso conhece a realidade sobre a qual ela fala. Angela é presidente de uma das mais tradicionais entidades beneficentes de proteção a animais do Brasil. O Quintal de São Francisco (Associação Beneficente de Proteção aos Animais) foi fundado em 1957 em São Paulo pela harpista Lêda Guimarães Natal, e de lá para cá desenvolve um trabalho pioneiro na defesa dos animais. A seguir a entrevista:             

Angela: ideias novas

AnimaisOk _ Nas ruas de São Paulo encontramos muitos animais abandonados, vivendo ao relento e sem vacinas. O que deveria ser feito para amenizar o problema na área da Prefeitura, do governo estadual e das ONGs?

Angela Caruso – Núcleos de bem-estar animal espalhados pela cidade, controlados pelas Subprefeituras, acompanhados de pequenas clínicas veterinárias, uma vez que a construção de novos centros de Controle de Zoonoses (CCZs) demanda enorme burocracia e terrenos grandes. Sendo assim, pequenos e vários pontos de atendimento terão menor custo e certamente serão mais eficientes. O recolhimento dos animais (setorizado) seguido das ações de cuidados, internação, vacinas, castração e a busca rápida pela adoção (evitar longos períodos de internação) deve ser o caminho. Socializar e envolver outros atores da comunidade, públicos e privados, como escolas, associações e igrejas, certamente será um forte aliado para vencer o desafio.
Ela olha os indefesos


AnimaisOk _ Você acha importante ter um serviço para atender emergências com animais nas ruas? 
Serviço social para os animais

Angela Caruso _ Uma vez que trabalhamos sem planejamento, entendo que precisamos de um serviço resolutivo – gratuito ou a custo simbólico – para animais em situação emergencial: atropelados, portadores de doenças curáveis e retirados de maus-tratos. Premissa: salvá-los. Devem ser encaminhados para a rede de clínicas veterinárias parceiras (da Prefeitura) que deverão manter custos baixos e tabelados, proporcionando ao animal acompanhamento e bons resultados. Todo animal deverá ter acesso a este serviço. Falo de um “serviço social animal”. Já no preventivo, o governo deve ampliar o programa de controle reprodutivo de cães e gatos integralmente. Não deve haver investimento individualizado. Do programa faz parte o registro e a identificação padronizada (eletrônica), integrada a um sistema eficiente de dados (que possa integrá-lo a outros municípios e estados em curto prazo); orientação permanente (educação continuada); fiscalização; controle da criação e comércio de cães e gatos; acesso público ao controle da saúde animal (vacinação e vermifugação), e ações massificadas e efetivas de recolocação dos animais recolhidos. Agilidade! As esferas de governo devem assumir seriamente a questão do bem-estar animal no País!

AnimaisOk – É possível desenvolver em São Paulo um programa de castração de animais domésticos eficiente e gratuito?
Angela Caruso – O programa de controle reprodutivo de cães e gatos, criado no ano de  2001 pela Lei Municipal 13.131/01 de autoria do vereador Roberto Tripoli,  conta hoje com 100 mil cirurgias gratuitas/ano. Muito esforço para chegar até aqui. Em 2010 licenciaram 13 clínicas, 1 universidade e 12 Ongs que trabalham conveniadas com a Prefeitura, porém, somente a CASTRAÇÃO não oferece resultado no controle animal. Outras ações fundamentais precisam caminhar uniforme no mesmo trilho.

AnimaisOk – O Quintal de São Francisco anunciou há dois anos que iria encerrar as atividades do abrigo de cães e gatos. O projeto seguiu em frente? 
Angela Caruso – O Quintal de São Francisco mantém sua meta de encerramento do abrigo conforme anunciou em 2009. Acreditou, ironicamente, que fecharia até março de 2010. Doce ilusão! Estamos vivendo uma penosa, porém rica experiência. Dos 383 cães que tínhamos em 2009 abrigamos, hoje são130, e 34 gatos. Quem são estes peludos? Vira-latas idosos, sem atrativos e que necessitam de lares e pessoas “mais do que especiais” para recebê-los em adoção. Porém, ainda estamos em nosso terreno, à procura de novo local. Queremos vender o patrimônio (terreno) para sanear despesas explicitadas em nosso site: http://www.facebook.com/l/86edc5eaCWjtrg2oH3FCjzdq-Vg/www.quintaldesaofrancisco.org.br .

Um dos projetos de educação
AnimaisOk – Quais as principais linhas de atuação do Quintal de São Francisco?
Angela Caruso – O Quintal de São Francisco tem uma trajetória de militância na defesa animal. Seu departamento de educação está no Projeto Focinhos Gelados, e nossa atuação permanece nas ações participativas de defesa animal e colaboração a outros projetos que primam pela saúde e bem-estar animal.

AnimaisOk – Qual sua opinião sobre o projeto que une governo do Estado e Universidade de São Paulo (USP) na formação de cerca de 30 cães-guias por ano para atendimento a deficientes visuais? 
Angela Caruso – Vejo o decreto do governador Geraldo Alckmin com muita preocupação. Cães-guia são difíceis de serem formados. O tempo de treinamento é longo. Nem todos conferem perfil para a atividade, mesmo sendo de uma mesma ninhada, e o trabalho é caro e penoso para o animal. Estes animais trabalham o tempo todo. Na casa do deficiente e na rua. Algumas necessidades como xixi e coco são controladas. Exemplo: cães adoram fazer xixi por onde passam (marcação de território). Não podem! Assim como também não podem latir (somente como alarme), cheirar despreocupadamente, se aproximarem para fazer “festinha”. Enfim, olhar o mundo como um cão, que minimamente expressa sua natureza, nem pensar. Os cães-guias são programados não para serem cães, mas uma “bengala” peluda, responsável, atenta e triste. Minha pergunta: quem serão os treinadores e quem os fiscalizará? Minha posição: não concordo com cães-guias!


Um comentário:

  1. Parabéns pelo seu trabalho Ricardo e da Angela Caruso também... de grande importância as questões levantadas e muito legal o ponto de vista dela sobre os cães guias...
    quando eu falava isso podia parecer uma maldade para pessoas leigas na questão do bem estar animal, mas realmente esse serviço não é pros animal, temos que entender que eles não estão aqui para nos servir e sim por suas próprias razões! Obrigada

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