sábado, 14 de agosto de 2021

Apesar dos problemas da Pandemia, vacinação de cães e gatos contra a raiva é necessária.

Agosto é conhecido como mês do “Cachorro Louco”.

Ninguém sabe ao certo de onde veio a designação, mas uma das versões atribui ao oitavo mês do ano alto índice de cadelas no cio, e por consequência machos alvoroçados. Último mês do inverno (no hemisfério sul) seria convidativo ao namoro, já que os rebentos nasceriam na primavera.

Seja qual for a razão, agosto é mês de serem lembradas as campanhas de vacinação de cães e gatos contra a doença raiva, transmitida por um vírus presente em morcegos (único mamífero voador). O Manual Técnico do Instituto Pasteur (referência na pesquisa da raiva no País desde 1903) sugere que o Dia de Vacinação contra a Raiva deva ocorrer entre julho e setembro.

A vacinação anual de cães e gatos é a principal forma de controle da doença nas áreas urbanas e de prevenção contra a infecção em seres humanos. Por isso, ela é obrigatória por lei nas principais cidades brasileiras.

Na capital São Paulo, porém, não há notícia da campanha de vacinação com postos volantes espalhados pela cidade, que sempre aconteceu em agosto. A vacinação pública dos cachorrinhos e gatinhos é oferecida somente nas dependências do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) e em campanhas de castração da Prefeitura. Também em cidades como São José dos Campos ainda não há anúncios dos postos de vacinação que em anos anteriores foram espalhados pela cidade no mês de setembro, com muita adesão da população (chegou-se a vacinar 4.700 animais em único fim de semana).

Representantes dos laboratórios Pfizer/Zoetis e Boehringer Ingelheim, fabricantes tradicionais de vacinas contra a raiva para caninos e felinos,  informaram na semana passada não dispor do imunizante (Defensor e Rabisin, respectivamente) para entregar a clínicas veterinárias particulares da zona sul de São Paulo. A falta do produto em dois laboratórios é absolutamente incomum. 

O laboratório Sanofi, que tem parceria com o Instituto Pasteur e com o Butantã, para fornecimento de vacinas contra a doença em humanos, fez um alerta em jornal de circulação nacional para a importância de se manter a vacinação anual de cães e gato para o controle da doença. O texto do informe publicitário afirma que, em todo o mundo, principalmente na África e Ásia, 60 mil pessoas morrem por ano da doença. O morcego é o principal transmissor para os humanos, seguido por cães e gatos.

No Brasil, as campanhas realizadas nos últimos 30 anos reduziram os casos em humanos de 155 na década de 1980 para dois no ano passado. Isso porque a doença foi reduzida nos animais de estimação.  

Em 2020 e 2021, a Pandemia de Covid19 trouxe novos desafios para as autoridades da área de Saúde Pública. As campanhas tradicionais de vacinação de bichinhos poderiam criar aglomerações humanas e contrariar as medidas de prevenção ao novo coronavírus. No entanto, novos protocolos de ação e de comunicação não chegaram a ser apresentadas ao público.  

O vírus que causa a Covid19 é o SARS COV- 2, da família Corona. Sua origem está em em morcego da Ásia. Segundo esta teoria, aceita pelos principais cientistas do mundo, o vírus do mamífero voador sofreu uma mutação que lhe permitiu conquistar uma nova espécie, o Homo Sapiens. Mutações acontecem frequentemente e a interferência humana na natureza aumenta os riscos de epidemias. Nada indica, porém, que morcegos sejam reservatórios naturais do SARS COV-2. 

Já em relação ao vírus da raiva os morcegos são o reservatório natural, em todo o mundo. Esse vírus não é um corona, mas pertence à família Rhabdoviridae, e é do gênero Lissavirus.  A transmissão para os demais mamíferos, humanos, vacas, cavalos, os cães e gatos, é direta por meio da saliva do animal. Mas nem pensem em brigar com esses bichinhos voadores, eles são úteis na natureza, basta respeitá-los e a seu habitat.

A doença é gravíssima e fatal, uma vez manifestada na vítima. O vírus ataca o Sistema Nervoso e deixa os cães absolutamente atordoados. Foi o francês Louis Pasteur quem desenvolveu a vacina contra a raiva no final do século 19 e abriu as portas de nossas casas para os amigos peludos. Até hoje a vacina em cães e em gatos é a principal forma de controle da doença nas áreas urbanas e em humanos, é usada na prevenção de grupos de risco e no tratamento dos casos de infecção por mordedura.

Pintura de época: o cientista Louis Pauster

Segundo o Instituto Pasteur, 70% dos casos notificados em seres humanos nos países em desenvolvimento têm o cão como transmissor da doença. Mamíferos silvestres como as raposas podem também transmitir a raiva a seres humanos. Os gatos precisam ser vacinados porque como caçadores podem pegar morcegos doentes.  

Por tudo isso, a gente pergunta: cadê as campanhas de orientação aos tutores e de vacinação dos bichinhos?


  



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